Redes sociais

Data de Publicação: 30 de dezembro de 2021


Nutricionistas devem estar atentos ao Código, divulgando a sua atuação em benefício da saúde da população.

Mais de 82% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet, de acordo com uma pesquisa realizada  pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019. Esse número evidencia a necessidade de marcar presença no mundo digital, seja por meio das redes sociais, de blog ou até de newsletter. Essas mídias podem ser grandes aliadas na Saúde, desde que o conteúdo desenvolvido atente sempre à ética e à ciência. E, para o nutricionista, estar digitalmente ativo é importante para dar visibilidade à nutrição, para projeção da carreira, para fortalecer o reconhecimento e, também, para aproximar o profissional das pessoas. Deve-se, entretanto, ter em mente que é preciso usar as mídias de maneira correta em benefício da profissão e da sociedade.

Dicas para atuar de forma segura nas mídias sociais

A internet, assim como as redes sociais, pode e deve ser utilizada para fins profissionais, constituindo-se em aliada do trabalho do nutricionista. Entretanto, a exposição precisa estar alinhada aos princípios contidos no Código de Ética e de Conduta do Nutricionista. Nele, constam várias recomendações que incluem o cuidado com a imagem pessoal e a qualidade da informação e da linguagem, o dever de abster-se de ações sensacionalistas e de autopromoção, além da exposição de depoimentos e imagens de pacientes, bem como de divulgação de marcas, produtos e serviços, entre outros.

"O exercício ético da profissão é fundamental, pois traduz questões de respeito e decoro com todos os envolvidos. Em um momento histórico de crise moral e ética, mais do que nunca precisamos falar sobre esse assunto", alerta a nutricionista Carmem Franco, que é ex-presidente do CRN-2, atuou diretamente na construção do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista e integra o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)

Carmem chama a atenção para a "responsabilidade que devemos ter quanto às nossas manifestações, pois, como profissionais, somos formadores de opinião". O nutricionista é responsável por todas as informações emitidas e, por isso, é fundamental estar atento e checar antes de postar. 

Confira os principais pontos do Código de Ética quando o assunto são redes sociais: 

É permitido:

Divulgar sua qualificação profissional, técnicas, métodos, protocolos, diretrizes, benefícios de uma alimentação para indivíduos ou coletividades saudáveis ou em situações de agravos à saúde.
Publicar dados de pesquisas, desde que autorizado por escrito pelos pesquisados, respeitando o pudor, a privacidade e a intimidade própria e de terceiros.
Passar dicas sobre preparos de alimentos são muito interessantes. Uma alternativa é trazer informações científicas sobre ingredientes e benefícios.
Compartilhar artigo científico próprio ou de terceiros é uma das formas de mostrar conhecimento e valorizar a profissão.

É um dever:
Ter como objetivo principal a promoção da saúde e da educação alimentar e nutricional, de forma crítica e contextualizada e com respaldo técnico-científico.
Ao divulgar orientações e procedimentos específicos para determinados indivíduos ou coletividades, informar que os resultados podem não ocorrer da mesma forma para todos.
Preservar a identidade dos pacientes.

É proibido:
Utilizar, na divulgação de informações ao público, estratégias que possam gerar concorrência desleal ou prejuízos à população, tais como promover suas atividades profissionais com mensagens enganosas ou sensacionalistas e alegar exclusividade ou garantia dos resultados de produtos, serviços ou métodos terapêuticos.
Utilizar o valor dos honorários, promoções e sorteios de procedimentos ou serviços como forma de publicidade e propaganda para si ou para o local de trabalho.
Divulgar imagem corporal de si ou de terceiros, atribuindo resultados a produtos, equipamentos, técnicas, protocolos, pois podem não apresentar o mesmo resultado para todos e oferecer risco à saúde. A exceção é no caso de divulgação de pesquisa científica.
Utilizar as redes sociais para denunciar ou criticar colegas.

A nutricionista Carmem reforça que "a proposta do Código de Ética e de Conduta do Nutricionista não é trazer uma 'receita pronta', mas apresentar o quanto precisamos ser responsáveis por nossas atitudes e suas repercussões". Ela relata que alguns profissionais desejam "maior liberdade" para manifestações nas redes. "As pessoas em geral não têm nenhuma responsabilidade com o que falam ou com a saúde da população, diferente de nós, nutricionistas. Saúde não é mercadoria!", defende Carmem.

Há casos, no entanto, em que nutricionistas negligenciam as regras do Código, como por exemplo quando divulgam a marca de algum produto, o que é proibido. "Os artigos são bastante claros. Por vezes, o profissional não se atentou ao apresentado ou, por ter divergência de opinião, pensa que não precisa seguir o ali disposto. É bastante frequente ouvir-se a afirmação de que 'tem muita gente fazendo e não há atitude por parte do Conselho'. Gosto de fazer a comparação de que a velocidade máxima nas rodovias também é determinada, mas muitos motoristas só obedecem quando estão perto de algum radar, mas isso não valida sua atitude e nem é motivo para outros motoristas fazerem o mesmo", finaliza Carmem.

Como garantir bons resultados com a presença digital

Entre os canais que se destacam nas redes sociais hoje, está o Instagram, quarta rede social mais usada no Brasil, com 110 milhões de usuários, de acordo com uma pesquisa realizada pela ferramenta Hootsuite. Fica atrás de Facebook (130 mi), YouTube (127 mi) e WhatsApp (120 mi). Outra rede, não menos importante, com foco totalmente profissional, é o Linkedin, que chegou à marca dos 50 milhões de usuários no país este ano. E, quando o assunto é a presença digital, vale registrar que número de seguidores não significa qualidade de conteúdo.

"Ter muitos seguidores se tornou capital social, símbolo de status, mas não é sinônimo de qualidade", alerta João Finamor, que é mestre em Design pela UFRGS, pós-graduado em Marketing e professor de Marketing Digital na ESPM, em Porto Alegre. É justamente por isso que Finamor desaconselha, por exemplo, a compra de seguidores e os sorteios cujo único objetivo é aumentar os números. "No Instagram, o algoritmo vai pegar uma fatia dos seus seguidores, uma amostra, e vai avaliar o conteúdo. Se essas pessoas não curtem, não leem e não engajam, o algoritmo não entrega mais."

C = Consistência. Estar ativo, ter periodicidade, seguir um calendário editorial, ter ordem nas publicações;
A = Autoridade. Produzir conteúdo autêntico, de valor. Não adianta postar mais do mesmo;
R = Relevância. É como os seguidores veem a conta: se é importante, se é útil;
E = Engajamento. Não é só curtida e comentário, é uma combinação de tudo: o tempo que a pessoa fica na sua conta e se ela interage com o conteúdo.
É a soma de atenção e interatividade.

Para criar um calendário editorial, Finamor ensina que devemos pensar em três pilares de conteúdo:

1) Herói: é o conteúdo de sucesso, algo que todo mundo está falando, é aquele conteúdo que seria capa de revista. Uma dica para descobrir o assunto do momento é a ferramenta Google Trends. Lá, você pode ver quais são os assuntos mais buscados ou também pesquisar algum termo para saber como está a procura por ele.
2) Conexão: é sobre você, o que faz, qual a sua especialidade, qual a sua essência.
3) Help: conteúdo útil, dicas, posts que inspiram, motivam, receitas, curiosidades sobre alimentos.

Com esses pilares em mente, os conteúdos podem ser distribuídos ao longo do mês seguindo a proporção: 50% conexão, 30% help e 20% herói.

Uma dúvida que surge com frequência é se devemos ter um perfil profissional e outro pessoal ou se é melhor uma conta só. Finamor explica que depende de qual é o seu objetivo: "Até que ponto você gosta que os seus pacientes saibam sobre você? Se você quiser falar algumas coisas mais pessoais sobre a sua rotina, sobre o seu estilo de vida, tudo bem ter um perfil só, no qual você vai compartilhar conteúdos, mas também vai trazer um pouco de bastidores da sua vida. Agora, se você não quer gerar esse tipo de conexão, quer manter uma relação profissional e, de certa forma, mais distante, é recomendado ter um perfil profissional em que você gera um posicionamento e autoridade e outro perfil pessoal, preferencialmente fechado, para que você tenha as suas relações pessoais e sociais não expostas aos pacientes."

Sobre a quantidade de conteúdo que devemos postar, não existe receita de bolo. "É mito essa questão de frequência ideal de postagens, o que é importante é que você tenha consistência. Não adianta, por exemplo, em duas semanas você publicar todo dia, e depois parar de publicar. Fazer live uma semana e nunca mais fazer, então você precisa avaliar quanto dessas estratégias de conteúdo você consegue produzir de forma constante. Se for um post dia sim, dia não, ótimo. Se for post diário, ótimo também, desde que você consiga manter essa cadência" conclui o professor.

Vale destacar ainda que focar nas redes que fazem mais sentido ao público de relacionamento e que são mais coerentes com a estratégia do profissional é a melhor forma de atuar. O conteúdo e o formato usados para as  publicações precisam também estar alinhados ao perfil do profissional. Usar de humor, por exemplo, é permitido sim, desde que essa seja uma característica já conhecida sobre o dono do perfil e que o conteúdo seja relevante, não apenas "siga a onda" sem algum propósito.

As redes sociais são, portanto, extremamente úteis para os profissionais de nutrição como ferramenta para a divulgação de seu trabalho e de hábitos saudáveis para a população. E, além disso, são importantes aliadas para que a sociedade, de modo geral, conheça e contribua com as políticas públicas para ajudar essa parcela de brasileiros que estão em situação de insegurança alimentar. 




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