PICS e fitoterapia

Data de Publicação: 30 de dezembro de 2021


Um importante avanço para nutricionistas brasileiros ocorreu este ano. Duas resoluções entraram em vigor, permitindo aos profissionais agregarem a fitoterapia e as Práticas Integrativas Complementares (PICS) aos seus atendimentos.

O interesse da nutricionista Cristiane Paulsen Graef pelas PICS surgiu de uma necessidade particular de autoconhecimento. "Após experimentar a auriculoterapia durante meu tratamento para insônia com uma terapeuta holística e ter bons resultados, resolvi estudar mais a fundo as práticas para poder levar os benefícios aos meus pacientes", garante a profissional de Pelotas. Formada há 19 anos na UFPel em Nutrição e pós-graduada em Gestão em Nutrição Clínica pela Uniguaçu, ela realizou diversos cursos e adotou a auriculoterapia, a aromaterapia, a meditação e os florais de Bach nos atendimentos. 

Cristiane relata resultados positivos com os tratamentos: "tive uma paciente adulta obesa que após 15 anos de tentativas frustradas de emagrecimento conseguiu perder peso ao adotar a aromaterapia e a meditação. Ela finalmente consegue comer com prazer, sem culpa e sem compulsão. Outro caso interessante é o de uma idosa que chegou ao consultório reclamando que não conseguia perder mais de 3 kg e que tinha dores constantes no joelho, por isso não fazia exercícios. Com o uso da auriculoterapia para reduzir as dores, ela conseguiu incluir atividade física na sua rotina e já perdeu 8kg. Ambas se mantêm no tratamento nutricional há mais de 6 meses".  Conforme a profissional, os principais benefícios observados são a redução da ansiedade e do estresse, melhora na qualidade do sono, aumento da sensação de bem-estar e alegria.

Esses também são os principais ganhos mencionados pela nutricionista formada pela UFPel, Patricia Machado da Silva Lange, que vem trabalhando com essas técnicas desde 2019. "As PICS permitem que a gente possa equilibrar o ser humano como um todo. São práticas que nos possibilitam trabalhar corpo e mente. Além disso, não são invasivas. E a pessoa percebe que pode seguir com tratamento medicamentoso, sendo que, por vezes, o médico acaba percebendo as mudanças e vai reduzindo ou eliminando as doses", registra ela.

A imersão de Patrícia em PICS iniciou em 2019, durante uma capacitação da Universidade Federal de Pelotas em parceria com as Coordenadorias Regionais de Saúde sobre o enfrentamento e controle da obesidade no âmbito do SUS. Durante os encontros, ouviu depoimentos sobre os excelentes resultados na aplicação das práticas na atenção básica. "Naquele ano, comecei a me capacitar. Fiz alguns cursos sobre meditação, auriculoterapia, aromaterapia, cromoterapia e reflexologia podal. A intenção era atuar, nos grupos com os quais trabalhava em Turuçu, na prevenção da obesidade."

Há 21 anos à frente do tema de alimentação escolar, ao conhecer as PICS, Patrícia ficou motivada a trabalhar a nutrição clínica. A profissional observou que as pessoas apresentavam ansiedade, distúrbio do sono, depressão, organismo desregulado e problemas intestinais, muito em função do estresse causado pela pandemia. "Comecei a aplicar PICS e a ter excelentes resultados. Até eu mesma ficava surpresa", destaca Patrícia. 

 

A importância da regulamentação para os nutricionistas

"Regulamentação traz credibilidade. A pessoa que procura o profissional vai ter segurança, confiança de que vai estar realizando acompanhamento com quem tem conhecimento", afirma Patrícia Lange. "Em janeiro deste ano surgiu a resolução e as exigências para que a gente pudesse atuar com essas práticas. Juntei a documentação que precisava para começar a trabalhar na nova regra. Vi que alguns cursos que vinha fazendo não tinham carga horária mínima exigida e fiz novas capacitações para fechar essa carga horária. Até o momento, acabei sendo autorizada a trabalhar com aromaterapia, cromoterapia e reiki. Hoje, aguardo o registro em auriculoterapia. Estou fazendo cursos para fechar hora de reflexologia podal e meditação", ressalta.

"Ter uma regulamentação que permita abraçar de maneira integral o paciente auxilia na nossa conduta como profissionais de saúde, possibilitando um olhar mais abrangente do que é a saúde, sem perder o foco no nosso grande instrumento de cura que é o alimento'', afirma Cristiane.

  

Atuação de nutricionistas com as PICS

Instituídas no Brasil em 2006, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) têm ganhado cada vez mais relevância como tratamento complementar devido às evidências científicas dos seus benefícios. A partir da Resolução CFN nº 679/2021, o exercício das PICS passou a ser assegurado também aos nutricionistas.

 

As PICS foram organizadas nas seguintes categorias:

1 - Práticas que lidam com a alimentação e com o uso de plantas medicinais a partir de diferentes racionalidades em saúde (ayurveda, medicina antroposófica/antroposofia aplicada à saúde e, medicina tradicional chinesa - exceto acupuntura, ventosa e moxabustão).
2 - Práticas que incluem prescrições individualizadas (apiterapia - exceto apitoxina -, aromaterapia, homeopatia e terapia de florais).
3 - Práticas individuais e coletivas que podem ser utilizadas como ferramentas terapêuticas integrativas auxiliares, pois podem estimular mudanças no estilo de vida, promover a saúde e integrar o processo de educação alimentar e nutricional, de forma a compor uma abordagem multidimensional do exercício profissional (arteterapia, biodança, bioenergética, cromoterapia, dança circular, imposição de mãos/reiki, meditação, musicoterapia, reflexoterapia, shantala, Terapia Comunitária Integrativa e yoga.

 

O que é necessário para adotar as PICS?

Para que as práticas sejam incluídas como parte da assistência nutricional e dietoterápica, e da educação nutricional, o nutricionista deve ter registro de habilitação do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) da sua região. Cada PICS possui requisitos próprios, os quais estão listados no ANEXO II da Resolução CFN 679/2021. 

É necessário ainda registrar em prontuário a realização de procedimentos, os encaminhamentos e as prescrições de substâncias relacionados às PICS, inclusive com a indicação que justifique o uso da prática, mantendo-o arquivado pelo tempo determinado, nos termos da Resolução CFN 594/2017.

As práticas são bem diferentes, porém, com o mesmo objetivo: proteção e recuperação da saúde. As PICS priorizam a qualidade de vida e são utilizadas tanto para tratar doenças, especialmente as crônicas, bem como atuam na prevenção de enfermidades, promoção e manutenção da saúde, e se alinham com as diretrizes de saúde da OMS.

Recentemente, o CFN criou uma plataforma que serve para dar mais segurança na assistência nutricional tanto para pacientes como para profissionais. O Sistema de Cadastro em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e Fitoterapia, hospedado no site do Conselho Federal de Nutricionistas, é um recurso oferecido pelo órgão para todos nutricionistas do país que têm interesse em atuar ou já atuam com as PICS e a Fitoterapia na assistência nutricional. Para realizar o cadastro basta acessar o link do sistema, preencher o formulário e seguir as instruções. Também é possível obter mais informações no material disponibilizado pelo CFN: Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).

 

Prática de fitoterapia

A segunda novidade para o trabalho dos profissionais da Nutrição é a resolução que assegura a possibilidade da abordagem da fitoterapia. A aplicação pelo nutricionista trata do uso de plantas medicinais em suas diferentes preparações, englobando plantas in natura, drogas e derivados vegetais, com exceção de substâncias ativas isoladas ou altamente purificadas, administradas exclusivamente pelas vias oral e enteral.

O nutricionista já sabe da importância do uso da fitoterapia como estratégia complementar da prescrição dietética, mas a prática não era regulamentada. Este ano, então, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) outorgou o uso da técnica por meio da Resolução  CFN nº 680/2021

"Considero a regulamentação da fitoterapia para os nutricionistas um marco histórico, que possibilita um atendimento integralizado, individualizado e humanizado. Minha atuação com o método ainda é recente devido à regulamentação ter sido este ano, mas já foi possível identificar melhorias no controle glicêmico de alguns pacientes com o uso da fitoterapia aliada à dietoterapia, bem como em casos de constipação", destaca a nutricionista Letícia Schmidt, de Porto Alegre. 

Graduada em nutrição pelo IPA, Mestre em Bioquímica pela UFRGS e pós-graduada em Nutrição Materna e Infantil, e também em Fitoterapia, a profissional defende que a utilização de plantas para fins terapêuticos e medicinais é milenar e comprovadamente eficaz.

Quando se utiliza as propriedades químicas provenientes da natureza de forma complementar ao atendimento dietoterápico, percebemos que temos um poderoso aliado, sendo uma forma de atender a demandas específicas que irão refletir diretamente no estado nutricional do paciente", destaca Letícia, que ainda complementa: "Vale ressaltar que a prescrição de fitoterápicos favorece a fidelização do paciente, uma vez que o acompanhamento individualizado se torna essencial para atingir os resultados desejados, tendo em vista que o uso contínuo pode alterar sua eficácia."

Ao nutricionista habilitado cabe reforçar que a prescrição deve ser realizada exclusivamente por via oral, e nunca por via tópica, por exemplo. Já ao nutricionista sem habilitação em fitoterapia é permitida a prescrição de plantas medicinais e drogas vegetais preparadas unicamente por infusão, decocção e maceração. Também podem ser prescritas drogas vegetais e óleos fixos em formas farmacêuticas, desde que sejam classificados como alimentos, novos alimentos e ingredientes ou suplementos alimentares. O profissional de Nutrição não habilitado não pode, no entanto, prescrever esses produtos na forma de cápsulas, drágeas, pastilhas, xarope, spray ou qualquer outra forma farmacêutica. Também está vedada a prescrição na forma de extrato, tintura, alcoolatura ou óleo, nem como fitoterápicos, nem em preparações magistrais - fitos manipulados.




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