Internacional e Grêmio apostam em nutricionistas para garantir performance

Data de Publicação: 16 de junho de 2023


Considerados cada vez mais estratégicos dentro de clubes esportivos, nutricionistas dividem com preparadores físicos, fisiologistas e equipe médica a responsabilidade pelo bom desempenho dos atletas de alto rendimento.

A nutrição é um dos quatro pilares que garantem o bom desempenho física de um atleta de alto rendimento. Por isso, junto ao preparador físico, equipe médica e profissionais da área da fisiologia está o nutricionista. 

Conscientes da importância do profissional da nutrição para o desempenho no esporte, clubes e atletas cada vez mais vem agregando nutricionistas às suas equipes técnicas e incorporando essa ação à estratégia de preparação dos atletas.

No futebol, não é diferente. Ainda que em times pequenos seja raro encontrar nutricionistas, nos grandes clubes eles são presença obrigatória. Os dois maiores clubes do Rio Grande do Sul – Grêmio e Internacional – contam com esses profissionais em suas equipes. A dupla Grenal sabe que é fundamental cuidar da alimentação de seus atletas porque as competições exigem fisicamente cada vez mais dos atletas. 

Para termos uma noção do que estamos falando, um jogador de futebol queima, em média, aproximadamente 1.500 calorias em uma partida (quase a mesma queima calórica diária de um adulto para manter suas atividades básicas). Eles correm, em média, de entre 9 e 11 quilômetros durante os 90 minutos de jogo. Os volantes, que atuam na defesa e no ataque, chegam a correr 15 quilômetros. Isso resulta em perda de peso: alguns atletas podem perder de dois a três quilos durante uma partida de futebol devido à transpiração. Além da distância percorrida em uma partida, esses atletas são submetidos a um alto grau de estresse físico, pois o esporte exige reações rápidas, velocidade e saltos.

Nutricionista do Internacional desde 2020, Maria Júlia Goulart explica que, no clube colorado, a profissional atua em duas frentes: na saúde do atleta e na performance. No que tange à saúde, o ponto principal é uma alimentação balanceada. Já em relação à performance, a nutricionista aposta na suplementação. 

“Quando trabalhamos com esporte de alto rendimento, a alimentação às vezes não é o suficiente. É necessário suplementar com substâncias que vão ajudar nessa alta demanda energética que os atletas têm. O nutricionista é muito importante nesse sentido, porque faz uma avaliação de quanto o atleta gasta, que é essa demanda energética, e estabelece como suprir a falta das calorias e nutrientes obtidas com a alimentação por meio da suplementação. Além disso, temos alguns recursos alimentares ergogênicos que vão auxiliar na atuação e que utilizamos, também, como a cafeína, por exemplo. Então, quando trabalhamos com alto rendimento, focamos em suprir necessidades para aquele momento”, explica Maria Júlia. A suplementação também pode ser utilizada para auxiliar em algumas condições de saúde, complementa. 

Já para o nutricionista do Grêmio, Bruno Guerra, o foco central está na alimentação. “No Grêmio, nós temos toda uma estrutura para cuidar da alimentação do atleta. Nós conseguimos disponibilizar todas as refeições. 

Por exemplo, se o treino é à tarde, nós ofertamos a refeição antes e pós-treino, tudo pensando na recuperação do atleta. Para o pós-treino, usamos alimentos com uma digestibilidade mais rápida, para que o atleta tenha logo acesso aos nutrientes necessários e possa se recuperar da sessão de treino mais rapidamente", explica. “Antes do treino são ofertadas refeições leves, como frutas, iogurte, alguma opção quente sem muita gordura, para que o atleta possa ter uma disponibilidade mais rápida de energia. E todo o grupo profissional tem acesso a isso”, conta Guerra. 

Sobre a suplementação, Guerra é cauteloso. “A nutrição esportiva carece de um maior detalhamento sobre algumas práticas. Quando olhamos a literatura, temos muitas respostas conflitantes. Prefiro que os recursos sejam investidos em itens sobre os quais haja dados mais consolidados, como, por exemplo, os carboidratos e proteínas, e suplementos como creatina”, defende.

Conforme o profissional do clube tricolor, houve uma evolução significativa da nutrição esportiva. “Antigamente não tínhamos trabalhos tão detalhados sobre o papel dos nutrientes. Hoje em dia, há uma ideia bem consolidada, que é o uso de carboidratos para atletas. Essa é uma unanimidade entre diferentes profissionais, de que o carboidrato é o combustível do atleta, seja ele jogador de futebol, tenista, nadador, ginasta. Então, hoje não se consegue pensar em nutrição esportiva sem falar no papel dos carboidratos na performance esportiva”, destaca Guerra.

Outra frente importante do trabalho do nutricionista nos clubes esportivos, segundo Guerra, é a questão sanitária. Cabe ao nutricionista evitar contaminações dos alimentos consumidos e a intoxicação alimentar. “Antes, não havia a figura do nutricionista nas equipes de saúde dos clubes. Então, ficava a cargo do médico ou de outro profissional. E eles não entendiam da parte sanitária, que é muito da formação do nutricionista. Nós somos responsáveis por cuidar da qualidade do preparo, da temperatura que os alimentos são servidos. É muito difícil haver alguém na equipe de saúde de algum clube de futebol ou de algum outro esporte, que entenda essas pautas sanitárias. Então, o nutricionista acaba agregando bastante”, explica Bruno Guerra.

 

Visão estratégica

A nutrição esportiva é vista pelos grandes clubes como estratégica para o desenvolvimento e atuação dos atletas. “O trabalho no futebol é transdisciplinar, todos estão ligados, a preparação física monta a estratégia de treino, a nutrição vem junto nessa estratégia, juntamente com a medicina e a fisiologia. Nós recebemos a planilha de treinamento dos atletas e, a partir disso, montamos a nossa planilha de nutrição, tanto alimentar, quanto suplementar, por ciclo de treinamento, e tem também a saúde individual. Então, a equipe médica solicita os exames e o nutricionista faz o acompanhamento da saúde do atleta. Aliado a isto tem a parte física, metabólica dos treinos da fisiologia, de onde recebemos o feedback para os ajustes necessários” conta Maria Julia.

Mercado

Apesar de regulamentada pela Resolução do Conselho Federal de Nutricionistas nº 600/2018, a atuação de nutricionistas em academias e clubes esportivos ainda é pequena se comparada a outras áreas. Dados de 2021 do Conselho Federal de Nutrição mostram que apenas 2,5% dos nutricionistas brasileiros atuam na nutrição esportiva.

De acordo com Bruno Guerra, a maior fatia do mercado da nutrição esportiva está para os profissionais que atuam em consultórios. A nutricionista Maria Julia Goulart concorda. “Hoje, há muito atleta amador que pratica regularmente algum esporte e procura orientação de um nutricionista para melhorar seu desempenho”, relata.

Sobre a atuação em clubes esportivos, a nutricionista considera que ainda é um mercado restrito. “Quando falamos em atletas profissionais, não temos muitos clubes ainda que contam com nutricionistas, mas é um mercado muito gratificante, porque somos muito valorizados. No futebol, o nutricionista é 100% valorizado. Ele viaja com a equipe, ele está em todos os jogos, está dentro do vestiário. Então, ao mesmo tempo que é um mercado difícil de entrar, pelo menos na região Sul, é muito gratificante. Os atletas profissionais estão cada vez mais valorizando a nutrição esportiva. Há 10 anos nossa atuação não era tão valorizada”, comemora.

A busca pela qualidade de vida e saúde através da prática esportiva tem crescido bastante. Assim, a expectativa é de crescimento da atuação dos nutricionistas na nutrição esportiva junto aos atletas amadores. E, não podemos deixar de lembrar, que o esporte de alto rendimento também tem crescido. Atletas são cada vez mais exigidos em todas as modalidades: vôlei, basquete, tênis, natação, atletismo, skate, surfe e muito mais. Com a profissionalização das modalidades, cresce a necessidade de mais profissionais atuando nesse mercado que mexe com a emoção dos torcedores.