Com estudos que remontam a mais de uma década em decorrência da ineficácia das dietas restritivas, a abordagem comportamental na nutrição teve boom há cerca de cinco anos
“E isso se sobrepõe a uma prescrição lógica e racional. Então a abordagem comportamental nasce para olhar o que está por trás das escolhas alimentares, explicadas pelas emoções, busca do prazer, condicionamentos, impulsos, memórias e relações afetivas, cultura, tradições”, conta a nutricionista.
Para a nutricionista e professora Ana Feoli, a dissociação entre a questão dos nutrientes e o aspecto comportamental foi uma circunstância da evolução da Nutrição em termos de mercado. “Vendo um histórico da nutrição como profissão, nós tivemos que nos dedicar ao estudo dos nutrientes para termos um certo reconhecimento na sociedade e acabamos nos afastando dessas questões mais comportamentais. E agora existe um resgate disso”, avalia.
A virada de chave para a transição entre uma atuação meramente prescricional para uma abordagem comportamental sobre o alimento ocorre quando os profissionais perceberam que dietas muito restritivas adoeciam as pessoas.
Um marco importante foi a publicação, em 2018, do livro “O Peso das Dietas”, da nutricionista e engenheira agrônoma Sophie Deram, quando houve um boom da abordagem comportamental nos consultórios. Para suprir a necessidade de entender como o comportamento influencia a alimentação, a Nutrição buscou subsídios em outras áreas do conhecimento.
“Estamos olhando os estudos do comportamento alimentar, sobre por que as pessoas comem, os sistemas de recompensa, o significado da forma do corpo para uma pessoa, o comer emocional, isso já é falado há muito tempo, na área das ciências humanas. Estamos ressignificando esse conhecimento”, avalia Ana Feoli, que coordena grupo de pesquisa em comportamento alimentar na PUCRS.
A abordagem comportamental, por vezes, pode frustrar as expectativas de pacientes que não estão preparados para um processo longo e duradouro de autoconhecimento e ressignificação do papel da comida na sua vida. De acordo com a nutricionista Ana Feoli, a maioria das pessoas que buscam o nutricionista ainda imaginam que receberão um papel com o que elas devem comer.
“Porém, tem todo um primeiro passo de entender o que significa a comida para aquela pessoa, e ela mesma fazendo escolhas, com nossa orientação. É muito estranho para o nutricionista que estuda o comportamento dizer o que a pessoa precisa comer e a quantidade. A autonomia precisa ser do paciente. Precisamos desconstruir essa imagem de um profissional tão prescritivo”, defende Ana Feoli.
A autonomia é imprescindível para que o paciente possa buscar o equilíbrio da sua relação com a comida, levando em consideração que a alimentação vai variar conforme os diferentes contextos da vida.
Segundo a nutricionista Patrícia Dame, quando falamos em alimentação saudável, costumamos pensar naqueles alimentos que devemos comer e naqueles que devemos evitar. Porém, numa abordagem comportamental, é necessária uma visão maior, sendo a de um comportamento alimentar saudável.