Projeto leva informações sobre introdução alimentar para Unidade de Saúde de Pelotas

Data de Publicação: 16 de junho de 2023


Baseados nos “12 passos para a alimentação saudável de crianças menores de dois anos”, encontros mostram a importância do aleitamento materno e ensinam mães a avaliar alimentos processados e como construir hábitos alimentares saudáveis para toda a família.

A formação dos hábitos alimentares ocorre nos primeiros anos de vida e a maneira como a criança se relaciona com a alimentação, bem como a formação do paladar, estão associados à forma e variedade como a alimentação é oferecida. Crianças que recebem alimentos adequados e saudáveis têm mais chances de se tornarem adultos com bons hábitos alimentares. Por outro lado, práticas inadequadas afetam a saúde da criança em curto e longo prazo, demonstrando a importância da promoção da saúde infantil.

Mesmo diante dessa evidência, a prevalência de obesidade em crianças vem aumentando exponencialmente no Brasil com potencial para gerar adultos com doenças crônicas ligadas à obesidade. Segundo números do Ministério da Saúde, publicados no Atlas da Obesidade Infantil (2009), três em cada dez crianças de cinco a nove anos estão acima do peso. 

Desse modo, se nada for feito, até 2030, a previsão é que o Brasil passe a ocupar a 5ª posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes com obesidade. Por esse motivo, é fundamental a introdução correta de alimentos e o incentivo ao aleitamento materno, como formas de prevenção a obesidade. 

Ajudar mães e familiares a escolher alimentos de forma crítica e autônoma durante a introdução alimentar das crianças foi o propósito do projeto de extensão “Comidinha de Verdade”, encabeçado pela nutricionista Fernanda Madruga, no município de Pelotas. 

Durante três encontros, mães atendidas pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Municipal aprendem, na prática, a fazer as melhores escolhas alimentares para seus filhos sob orientação de nutricionistas. 

A ideia do projeto surgiu da demanda que a nutricionista Fernanda Madruga observava na UBS, onde atuava como preceptora de estágio dos estudantes de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas. 

“Nós atendíamos muitas gestantes, mães, questionando sobre como fazer a introdução alimentar, então surgiu a ideia de fazer o projeto”, lembra Fernanda.

Baseados nos 12 passos para a alimentação saudável de crianças menores de dois anos (veja o quadro abaixo), os conteúdos dos encontros abordam desde a importância do aleitamento materno exclusivo até o impacto da publicidade sobre as escolhas feitas no supermercado. 

No primeiro encontro, que tratou da amamentação, as mães foram provocadas a compartilharem suas dificuldades. O segundo tratou da alimentação complementar, o que incluiu uma sondagem com as mães, a partir de amostras de alimentos, sobre aqueles que elas consideravam adequados ou não para os bebês consumirem. 

 

“Mostramos alimentos como refrigerantes sabor fruta, que têm todo um apelo para parecerem alimentos bons, mas que na realidade não são. Pedíamos que elas avaliassem cada alimento, e depois líamos os rótulos em conjunto para vermos o quanto havia de fruta realmente naquele alimento. E elas ficavam impressionadas, porque nunca haviam parado para fazer essa leitura”, conta Fernanda Madruga. 

Conforme dados do Ministério da Saúde, publicado no Atlas da Obesidade Infantil (2009), apenas 54% das crianças menores de seis meses ainda estavam em aleitamento materno exclusivo e 48% das crianças de 6 a 23 meses consumiram algum alimento ultraprocessado no dia anterior.

Além disso, conforme o levantamento, 32% das crianças consumiram bebidas adoçadas, 28% biscoitos recheados, doces ou guloseimas e 23% macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados. Além disso, os dados mostram que quase 19% das crianças menores de dois anos estão com excesso de peso.

Introdução dos alimentos

A questão da evolução da consistência dos alimentos conforme a idade e, também, a necessidade da oferta de alimentos em separado para as crianças, a fim de que elas conheçam o sabor de cada item, foi outro tema tratado nos encontros. 

De acordo com Fernanda, foi possível observar que se mantêm alguns mitos, como a necessidade de liquidificar os alimentos, além da crença de que os ultraprocessados são melhores que a comida feita em casa. 

O fato é comprovado por estudos que têm demonstrado que a alimentação complementar tem ocorrido de forma precoce e errônea. Além disso, alimentos como líquidos, mel, açúcar e guloseimas têm sido ofertados precocemente.

Ainda durante os encontros, o grupo de estudo conversou sobre a importância da socialização para construção dos hábitos alimentares e sobre o malefício da publicidade dos alimentos. 

“Perguntávamos como era o momento das refeições das famílias, se os pais se sentavam à mesa para comer com as crianças, se todos comiam a mesma comida... Perguntávamos, também, se era feita refeição separada para as crianças e por quê. Essa resposta foi positiva, justificada pela necessidade de ofertar aos bebês alimentos com menos sal, óleo e temperos industrializados. A partir dessas respostas, alertávamos sobre a importância de todos repensarem seus hábitos alimentares e comerem de forma mais saudável, não apenas as crianças”, revela Fernanda.

 

Apesar da curta duração, o projeto trouxe insights importantes para os profissionais da área da nutrição e da saúde.  “A troca de experiências entre as participantes foi enriquecedora. Além disso, pudemos observar que há um desconhecimento generalizado sobre alimentação infantil e a supervalorização dos ultraprocessados decorrente da presença constante na mídia. Às vezes, as mães fazem um esforço enorme para comprar um alimento que elas julgam ser melhor em função da publicidade. A introdução alimentar é o que vai formar hábitos. Então, precisamos dedicar um pouco mais de tempo a isso, até para prevenirmos, no futuro, o excesso de peso e a obesidade”, avalia Fernanda. 

Segundo o Atlas de Obesidade Infantil (2009), mais de 50% das crianças entre seis meses e dois anos receberam alimentos ultraprocessados. 

Nesse sentido, regular a publicidade de alimentos no Brasil é um dos principais desafios para promover a educação alimentar e nutricional, de acordo com a nutricionista. O outro é mudar o posicionamento dos próprios nutricionistas. 

“É necessário que os profissionais da área da nutrição se coloquem no lugar das pessoas, que entendam as dificuldades que elas têm e atuem a partir dessa realidade”, conclui. 

 

    Os 12 passos para alimentação saudável de crianças com menos de dois anos

  1. Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até os 6 meses;
  2. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses;
  3. Oferecer água própria para o consumo em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas;
  4. Oferecer comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno;
  5. Não oferecer preparações ou produtos que contenham açúcar até os 2 anos de idade;
  6. Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança;
  7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família;
  8. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto;
  9. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição;
  10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família;
  11. Oferecer alimentação adequada e saudável também fora de casa;
  12. Proteger a criança da publicidade de alimentos.

   Fonte: Ministério da Saúde