Baseados nos “12 passos para a alimentação saudável de crianças menores de dois anos”, encontros mostram a importância do aleitamento materno e ensinam mães a avaliar alimentos processados e como construir hábitos alimentares saudáveis para toda a família.
A formação dos hábitos alimentares ocorre nos primeiros anos de vida e a maneira como a criança se relaciona com a alimentação, bem como a formação do paladar, estão associados à forma e variedade como a alimentação é oferecida. Crianças que recebem alimentos adequados e saudáveis têm mais chances de se tornarem adultos com bons hábitos alimentares. Por outro lado, práticas inadequadas afetam a saúde da criança em curto e longo prazo, demonstrando a importância da promoção da saúde infantil.
Mesmo diante dessa evidência, a prevalência de obesidade em crianças vem aumentando exponencialmente no Brasil com potencial para gerar adultos com doenças crônicas ligadas à obesidade. Segundo números do Ministério da Saúde, publicados no Atlas da Obesidade Infantil (2009), três em cada dez crianças de cinco a nove anos estão acima do peso.
Desse modo, se nada for feito, até 2030, a previsão é que o Brasil passe a ocupar a 5ª posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes com obesidade. Por esse motivo, é fundamental a introdução correta de alimentos e o incentivo ao aleitamento materno, como formas de prevenção a obesidade.
Ajudar mães e familiares a escolher alimentos de forma crítica e autônoma durante a introdução alimentar das crianças foi o propósito do projeto de extensão “Comidinha de Verdade”, encabeçado pela nutricionista Fernanda Madruga, no município de Pelotas.
Durante três encontros, mães atendidas pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Municipal aprendem, na prática, a fazer as melhores escolhas alimentares para seus filhos sob orientação de nutricionistas.
A ideia do projeto surgiu da demanda que a nutricionista Fernanda Madruga observava na UBS, onde atuava como preceptora de estágio dos estudantes de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas.
“Mostramos alimentos como refrigerantes sabor fruta, que têm todo um apelo para parecerem alimentos bons, mas que na realidade não são. Pedíamos que elas avaliassem cada alimento, e depois líamos os rótulos em conjunto para vermos o quanto havia de fruta realmente naquele alimento. E elas ficavam impressionadas, porque nunca haviam parado para fazer essa leitura”, conta Fernanda Madruga.
Conforme dados do Ministério da Saúde, publicado no Atlas da Obesidade Infantil (2009), apenas 54% das crianças menores de seis meses ainda estavam em aleitamento materno exclusivo e 48% das crianças de 6 a 23 meses consumiram algum alimento ultraprocessado no dia anterior.
Além disso, conforme o levantamento, 32% das crianças consumiram bebidas adoçadas, 28% biscoitos recheados, doces ou guloseimas e 23% macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados. Além disso, os dados mostram que quase 19% das crianças menores de dois anos estão com excesso de peso.
Introdução dos alimentos
A questão da evolução da consistência dos alimentos conforme a idade e, também, a necessidade da oferta de alimentos em separado para as crianças, a fim de que elas conheçam o sabor de cada item, foi outro tema tratado nos encontros.
Apesar da curta duração, o projeto trouxe insights importantes para os profissionais da área da nutrição e da saúde. “A troca de experiências entre as participantes foi enriquecedora. Além disso, pudemos observar que há um desconhecimento generalizado sobre alimentação infantil e a supervalorização dos ultraprocessados decorrente da presença constante na mídia. Às vezes, as mães fazem um esforço enorme para comprar um alimento que elas julgam ser melhor em função da publicidade. A introdução alimentar é o que vai formar hábitos. Então, precisamos dedicar um pouco mais de tempo a isso, até para prevenirmos, no futuro, o excesso de peso e a obesidade”, avalia Fernanda.
Segundo o Atlas de Obesidade Infantil (2009), mais de 50% das crianças entre seis meses e dois anos receberam alimentos ultraprocessados.
Nesse sentido, regular a publicidade de alimentos no Brasil é um dos principais desafios para promover a educação alimentar e nutricional, de acordo com a nutricionista. O outro é mudar o posicionamento dos próprios nutricionistas.
“É necessário que os profissionais da área da nutrição se coloquem no lugar das pessoas, que entendam as dificuldades que elas têm e atuem a partir dessa realidade”, conclui.
Os 12 passos para alimentação saudável de crianças com menos de dois anos
Fonte: Ministério da Saúde |