Dia Mundial de Conscientização sobre a doença celíaca - Dieta sem glúten continua como única conduta eficaz
Data de Publicação: 15 de maio de 2021
Crédito da Matéria: Aline Gamarra Taborda Flesch – CRN-2 6330
A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia inflamatória autoimune causada pela ingestão de glúten, em indivíduos geneticamente suscetíveis. O espectro epidemiológico desta doença tem crescido. Estudos recentes demonstraram que a prevalência da doença celíaca aumentou mais de quatro vezes nos últimos 50 anos. Embora, ainda é deficiente de dados mais precisos, pois o diagnóstico da DC ainda se constitui em um iceberg (menos casos diagnosticados do que realmente existem), mas estima-se que na idade adulta varie, em todo o mundo, entre 1:100 e 1:300. Revela-se em uma patologia comum que afeta, portanto, de 1 a 2% da população mundial e que possui uma distribuição bastante homogênea.
A forma de apresentação da doença celíaca é muito variável, sendo que os pacientes podem ser assintomáticos, ou manifestar sintomas de má absorção intestinal, e também apresentar um quadro clínico em que predominam manifestações extraintestinais (dispepsia, fadiga, infertilidade, doenças do foro neurológico, osteoporose, dermatite herpetiforme, entre outras).
A DC, portanto, surge como consequência da ação de um fator precipitante ambiental sobre um indivíduo geneticamente predisposto, processo em que, possivelmente, intervém outros cofatores ambientais.
O resultado final do processo desencadeado pela doença celíaca é a inflamação intestinal, que nessa patologia é caracterizado pela infiltração intraepitelial e da lâmina própria por diversas células inflamatórias, hipertrofia das criptas e atrofia das vilosidades, com consequente redução da superfície de absorção intestinal.
Esta doença é apenas uma das diversas possíveis reações ao glúten. Ela deve ser diferenciada da alergia ao trigo e da sensibilidade ao glúten, patologias semelhantes e igualmente mediadas por células imunes.
Os Guidelines mais recentes estabeleceram que para rastreio diagnóstico da doença celíaca, pode-se usar a determinação dos níveis de anticorpos IgA anti-tTG.
O método considerado padrão ouro para o diagnóstico é a realização de uma biópsia, feita a partir de uma endoscopia digestiva alta (EDA), com pelo menos quatro fragmentos (incluindo bulbo e porção distal) do intestino delgado para realização de exame histopatológico. Este procedimento também pode ser considerado em pacientes com sorologia negativa para anti-tTG, anti-EMA e anti-DGP, caso apresentem sintomas severos e como tal, haja forte suspeita clínica do diagnóstico.
Apesar de terem sido propostas novas linhas terapêuticas para o tratamento da doença celíaca, atualmente, a única conduta com suficiente evidência científica da sua eficácia é a adesão a uma Dieta sem Glúten (DSG).
Portanto, a adesão vitalícia a uma DSG é o que conduz, na maioria dos casos, a uma remissão clínica, sorológica e histológica da doença. Nos últimos 60 anos, uma DSG provou ser eficaz no tratamento dos sintomas gastrointestinais como a diarreia, na resolução das deficiências nutricionais (de ferro e folato, por exemplo) e na normalização do crescimento e desenvolvimento. Demonstrou também ser segura e capaz de prevenir potenciais complicações da patologia, incluindo o desenvolvimento de doenças autoimunes, osteoporose, infertilidade e linfoma intestinal.
É essencial, por isso, que os pacientes diagnosticados com DC sejam encaminhados para um nutricionista especializado e/ou associações de suporte à doença.
Referências:
Bai JC, Ciacci C. World Gastroenterology Organisation Global Guidelines: Celiac Disease February 2017. J Clin Gastroenterol. 2017 Oct;51(9):755–68.
Lionetti E, Catassi C. New clues in celiac disease epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, and treatment. Int Rev Immunol. 2011 Aug;30(4):219–31.
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Aline é graduada em Nutrição pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (2003). Possui pós-graduação em terapia nutricional parenteral e enteral pela PUCRS (2005) e mestrado em Ciências em Gastroenterologia pela UFRGS (2011). É doutora pelo programa de Ciências Cirúrgicas da UFRGS (2016). Atua como livre docente em várias Instituições de Ensino Superior e de pós-graduação no RS e em consultório particular há mais de 10 anos.