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Como consumir produtos orgânicos sem pagar muito mais por isso


Data de Publicação: 16 de agosto de 2016
Crédito da Matéria: Assessoria imprensa - CRN-2


Pesquisa de ONG combate a ideia de que produtos orgânicos são necessariamente mais caros

Segundo dados do Ministério da Agricultura, o mercado de produtos orgânicos deve crescer entre 20% e 30% em 2016, atingindo faturamento de R$ 2,5 bilhões. O crescimento deve ocorrer apesar de esse tipo de produto ser encarado como uma espécie de luxo no Brasil.
    Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Kairós, uma ONG que promove práticas alternativas de produção, aponta, no entanto, que o preço pago por produtos orgânicos varia bastante entre supermercados, lojas especializadas, feiras e grupos de compras.
   Os preços altos praticados nos supermercados espantam muitos dos que pensam em aderir aos orgânicos. Mas quem estiver disposto a procurar com calma pode adotá-los sem gastar muito mais do que se paga por produtos tradicionais nesse tipo de ponto de venda.
 
O que é agricultura orgânica?
 
   A agricultura orgânica é aquela que busca evitar danos sociais e ao meio ambiente em sua produção, segundo definição da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
    Esse tipo de prática busca alternativas à agricultura tradicional, focando no manejo da lavoura e na não utilização de agrotóxicos. O que quer dizer que busca, por exemplo, respeitar os ciclos de desenvolvimento de cada cultura de acordo com as qualidades do solo e do clima do local do plantio. Outro exemplo: ela promove a rotação de culturas entre uma colheita e a próxima.
   No geral, a agricultura orgânica é baseada em um uso mais intensivo de mão de obra. Compradores adeptos se preocupam em remunerar o trabalho com o que consideram um preço justo, e criticam o preço pago na agricultura tradicional.
    O uso de aditivos sintéticos vai contra as práticas desse tipo de produção de alimentos. Estão vedados, por exemplo: antibióticos para animais - como galinhas produtoras de ovos -, fertilizantes, conservantes e pesticidas, além de sementes e raças geneticamente modificadas.
 
3 classificações principais:
 
PRODUTOS ORGÂNICOS CERTIFICADOS
   Recebem selos que garantem aos consumidores que as práticas foram seguidas. Isso é importante, por exemplo, para quem compra em redes de supermercado e não tem nenhum contato com os produtores. O processo de certificação é concedido por entidades chamadas de "organismos certificadores da conformidade orgânica” credenciados ao Ministério da Agricultura. Isso aumenta, no entanto, o preço final do produto
 
PRODUTOS ORGÂNICOS NÃO CERTIFICADOS
   São produzidos a partir das práticas da agricultura orgânica, mas não têm o selo que comprove isso. A "certificação” sobre o produto ocorre com base em visitas feitas diretamente pelos consumidores ou por participantes de grupos que eles integram ou em que confiam
 
PRODUTOS EM TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA
   Uma fazenda que usa agrotóxicos pode mudar todas as suas práticas para as da produção orgânica. Mas os produtos não podem ser imediatamente considerados orgânicos porque o solo ainda contém, por exemplo, resquícios de agrotóxicos. Os produtos desse momento de transição da prática tradicional para a orgânica são chamados de "em transição agroecológica”
 
A agricultura orgânica é mesmo mais cara?
 
   A FAO ressalta que a diferença entre os custos de produção de produtos orgânicos e tradicionais têm caído. Mas, mesmo assim, orgânicos continuam mais caros por uma série de características:
    O uso mais intensivo de mão de obra encarece a produção. Como as áreas são pequenas, não há a chamada "economia de escala” no plantio.
   A distribuição também é, em geral, realizada em pequenos volumes, o que a torna menos eficiente. Como a terra é usada de forma menos intensa, cada produto tem que compensar o tempo em que ela é colocada em descanso, ou dá lugar para uma cultura menos rentável, mas que ajuda na recuperação do solo. O suprimento de produtos do tipo é pequeno e não consegue acompanhar a demanda - o que também ajuda a explicar o ritmo forte de expansão desse mercado no Brasil.
   A entidade avalia que a diferença de preço tende a diminuir. "Conforme a demanda por produtos orgânicos cresce, inovações tecnológicas e economias de escala devem reduzir os custos de produção, processamento, distribuição e marketing do produto orgânico”, afirma a instituição.
 
Dá para pagar mais barato
 
  A pesquisa do Kairós não refuta a ideia de que o custo de produção de produtos orgânicos é maior. Mas ressalta que, do ponto de vista do consumidor, os preços realmente altos são praticados nos supermercados.
   Quem está disposto a mudar seus hábitos de consumo e se locomover até feiras especializadas pode pagar:
 - Preços bem menores do que os de produtos orgânicos vendidos em supermercados ou feiras.
- Preços praticamente equivalentes aos de produtos convencionais em supermercados.
   Uma das justificativas para isso é o fato de que, como são mantidos por entidades engajadas, muitos dos canais de venda não têm fins lucrativos, afirma em entrevista ao Nexo Juliana Gonçalves, coordenadora de projetos do Instituto Kairós.
   Para chegar a essa conclusão, pesquisadores compararam produtos de supermercados, feiras convencionais, feiras de orgânicos, e através de grupos de consumo responsável.
   Esses são associações de consumidores que entram em contato com produtores que gostariam de apoiar, verificam se as práticas orgânicas são seguidas e se organizam para consumir diretamente deles, pagando o que consideram um preço justo.
 
Por que consumir orgânicos?
 
Quem consome produtos orgânicos busca com isso gerar menos danos ao meio ambiente e obter comida mais saudável. Críticos à agricultura tradicional citam impactos à saúde ligados principalmente ao uso de agrotóxicos.
   Em posicionamento sobre o tema, o Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), ligado ao Ministério da Saúde, identifica alguns efeitos causados pelo consumo constante de produtos com resíduos de agrotóxicos.
   Entre os efeitos já identificados estão: infertilidade, impotência, aborto, má-formação fetal, neurotoxicidade (que prejudica o sistema nervoso e o controle muscular), desregulação hormonal e câncer. A entidade não entra em detalhes, no entanto, sobre qual o nível de consumo necessário para que esses tipos de problemas surjam.
   O principal relatório do governo para acompanhar a presença de agrotóxicos nos alimentos no país é o Para (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos), realizado até 2011 pela Anvisa, mas atualmente suspenso.
   De 1.628 amostras analisadas em 2011 - a pesquisa mais recente - 36% tinham resultados irregulares no que diz respeito a vestígios de agrotóxicos. Na maior parte dos casos, o problema era a presença de resíduos de elementos não autorizados para as culturas em estudo.
   Do total, 2,3% estavam acima da quantidade máxima de resíduos estabelecida como aceitável. Além disso, defensores da agricultura orgânica destacam os impactos ambientais da cultura tradicional.
   Em entrevista concedida ao Nexo em junho,  Marcelo Hirata Campacci, gerente adjunto de regulamentação federal da Associação Nacional de Defesa Vegetal, que defende o setor de agrotóxicos no Brasil, afirmou que agrotóxicos são substâncias controladas de forma a impedir danos à saúde no Brasil.
   "Até a sua aprovação, os produtos são submetidos a numerosos requerimentos da legislação”, disse na época. Em sua avaliação, o uso de agrotóxicos é necessário para alimentar a população mundial em crescimento.
   Essa questão gera debates acalorados - para os defensores de técnicas alternativas, é possível "alimentar o mundo” sem usar agrotóxicos.


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