4 de março - Dia Mundial da Obesidade
Data de Publicação: 4 de março de 2022
Fotos: Arquivo da autora e Freepik
Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), obesidade é o excesso de gordura corporal em quantidade que determine prejuízos à saúde. Existem diversas formas de medir esse excesso de gordura para determinar a obesidade, mas o mais comum e simples é o Índice de Massa Corporal (IMC). Uma pessoa é considerada portadora de obesidade quando seu IMC (peso/altura2) é maior ou igual a 30 kg/m2, sendo que a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS - 2019), entre 2003 e 2019, a proporção de adultos com a patologia na população brasileira mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%. Isso significa que, no Brasil, uma em cada quatro pessoas com 18 anos ou mais está com obesidade, o equivalente a 41 milhões de pessoas. Estas taxas também têm crescido de forma alarmante entre crianças e adolescentes. Estima-se que o número de crianças que vivem com obesidade aumente 60% em todo o mundo na próxima década, chegando a 250 milhões em 2030.
Estima-se que as consequências médicas relacionadas à patologia custarão mais de US$ 1 trilhão até 2025, evidenciando necessidade de um maior investimento em tratamento e prevenção para reduzir custos para os sistemas de saúde e para promover o bem-estar da população. Por isso, desde 2020, a Federação Internacional da Obesidade mudou a data do Dia Mundial da Obesidade para 04 de março. Com uma data única, o objetivo é coordenar melhor os esforços para reconhecê-la como uma doença multifatorial e crônica, que se tornou um dos maiores problemas de saúde pública.
Fator de risco à Covid
A obesidade é considerada uma doença crônica, adicionada à sexta revisão da Classificação Internacional de Doenças, aprovada em 1948. As pessoas que vivem com esta disfunção apresentam maior risco de desenvolver outras doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Também é um fator de risco para complicações relacionadas à Covid-19. Pessoas obesas têm duas vezes mais chances de serem hospitalizadas se testarem positivo, além de maiores taxas de gravidade e mortalidade relacionadas à Covid-19. A obesidade também pode afetar profundamente a saúde física, o bem-estar social e emocional, a autoestima e a qualidade de vida.
As causas para o excesso de peso e a obesidade são multifatoriais, assim como a prevenção e o tratamento devem também envolver esforços diversos. Uma visão simplista da perda de peso envolvendo “comer menos e movimentar-se mais” é cada vez menos sustentável, pois implica que a perda de peso é apenas uma questão de dieta e exercício, ignorando outros fatores da doença.
Nossos ambientes físicos e sociais afetam nossa capacidade de manter um estilo de vida saudável. Diariamente somos expostos a diferentes desafios alimentares e nutricionais, que envolvem desde mudanças frequentes de rotina que atrapalham planejamentos, assim como exposição a ambientes obesogênicos*. Portanto, a prevenção e o controle da obesidade são desafios que devem envolver diversos setores. São necessárias, cada vez mais, políticas públicas que estimulem e facilitem o acesso a alimentos de melhor qualidade nutricional e a prática de atividade física. Podemos citar, nacionalmente, o Pacto de Promoção de Alimentação Saudável, as novas legislações do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa Crescer Saudável, e no Rio Grande do Sul, a “Lei das Cantinas” (Lei nº 15216/2018), entre outras, que buscam criar ambientes alimentares saudáveis. Além disso, intervenções multiprofissionais que assistem as pessoas com obesidade de forma integral, considerando suas complexidades e individualidades e, principalmente, o ambiente e a rotina em que elas estão inseridas, são mais efetivas que outros tipos de intervenções.
O nutricionista tem um papel muito importante neste cenário, atuando na prevenção, tratamento e apoio às pessoas que vivem com obesidade.
Em nossa prática profissional, observamos que, muitas vezes, as pessoas têm acesso a informação sobre alimentação, nutrição e perda de peso, que podem estar vinculadas a divulgações de meios de comunicação, como redes sociais, blogueiros, etc. Entretanto, frequentemente, elas não conseguem diferenciar o que é real do que é fantasioso e/ou, ainda, colocar em prática as referências adquiridas nos canais apropriados que oferecem conhecimento técnico sobre alimentação e nutrição. Nesse sentido, o nutricionista deve ser capaz de ajudar esta parcela da sociedade a desenvolver confiança, autonomia e habilidades que possibilitem o enfrentamento dos desafios nutricionais no cotidiano.
Nossa formação técnica permite atuação qualificada no apoio às pessoas com a doença. Devemos atuar com empatia e colaboração com todos os envolvidos: pessoa com obesidade, família e outros profissionais. Temos potencial de transformar vidas por meio da alimentação.
* ambientes obesogênicos são aqueles que promovem efeitos negativos na nutrição e na atividade física, com elevada disponibilidade de alimentos altamente energéticos e de baixo custo, enquanto as oportunidades de ser fisicamente ativo são reduzidas, causando ganho de peso.
Nutricionista Caroline Nespolo de David, CRN-2 9334
Formada pela PUCRS, especialista em Saúde do Idoso (PUCRS), mestre em Cardiologia (UFRGS), doutoranda em Epidemiologia (UFRGS). Pesquisadora no Hospital Moinhos de Vento e empreendedora no Nutrition Thinking®️Co.
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Fontes consultadas:
World Obesity Federation, Obesity: missing the 2025 global targets. Trends, Costs and Country Reports. March 2020. http://s3-eu-west-1.amazonaws.com/wof-files/970_-_WOF_Missing_the_2025_Global_Targets_Report_ART.pdf
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde
2019. Atenção primária à saúde e informações antropométricas. Rio de Janeiro
2020. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101758.pdf
Bray GA, Kim KK, Wilding JPH; World Obesity Federation. Obesity: a chronic relapsing progressive disease process. A position statement of the World Obesity Federation. Obes Rev. 2017 Jul;18(7):715-723. doi: 10.1111/obr.12551. Epub 2017 May 10. PMID: 28489290.
James W. WHO recognition of the global obesity epidemic. Int J Obes 32, S120–S126 (2008). https://doi.org/10.1038/ijo.2008.247