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VII Encontro Nacional do FBSSAN - "Que alimento (não) estamos comendo?"


Data de Publicação: 5 de junho de 2013
Crédito da Matéria: Assessoria imprensa - CRN-2
Fotos: Gilka Resende e Camila Nobrega.
Fonte: FBSSAN


A afirmação foi feita por Renato Maluf, nesta terça-feira (4), durante o 7º Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) e remete à questão: Crise alimentar ou sistema alimentar em crise?

Ele, que integra a coordenação do Fórum, ressalta que um ponto fundamental é entender que a crise do sistema alimentar está interligada a outras. “Não há resposta possível para essa crise sem carregarmos as dimensões climática, energética e econômica. Tanto que atualmente o G8 consegue ser mais importante do que qualquer espaço da ONU para falar sobre segurança alimentar. E esse grupo dos países mais poderosos está fortemente influenciado pelas grandes corporações ”, disse.

Maluf também apontou o papel do Brasil neste contexto. “Na verdade, são vários brasis. Não há um só. Temos um país com contradições internas, mas que também exporta contradições. O Brasil dos grandes produtores lucra com a crise. Quando o país coopera com outros países com bons programas, ficamos orgulhosos. Mas quando desanda a exportar modelos agrícolas que a gente critica aqui, ficamos muito preocupados”, acrescentou.

Maluf ressaltou, ainda, que as políticas sociais, como o Bolsa Família, cumpriram um papel decisivo no Brasil. “Isso está claro, é inegável. Por exemplo, o tempo de horas trabalhadas que um trabalhador de salário mínimo precisa para comprar a cesta básica reduziu. O curioso é reparar é que diminuiu em um contexto de inflação interna. Só não sabemos que cesta é essa. Do ponto de vista nutricional, ainda é preciso saber o reflexo na alimentação da alta de preços”, ponderou.

Ecossistemas e financeirização da agricultura

Claudia Schmitt, professora do CPDA/UFRRJ, expôs que é preciso pensar o sistema alimentar para além da “produção, processamento e consumo”, observando a relação da tríade com os ecossistemas. “Mesmo com uma desgovernança global, o sistema tem uma capacidade de gerir contradições e se ampliar de forma concentrada”. Essa realidade, ressaltou Claudia, “desapossa populações do acesso a meios de vida” e gera “uma erosão dos recursos naturais”.

Diante disso, é preciso ter um controle público sobre a cadeia alimentar como um todo. Isso porque existe um “um jogo de escalas, desde o local até o global, de setores que deixam de ter uma regulação pública e passam para o privada”, essa que tem uma “baixa capacidade de participação da sociedade civil”.

Para mudar essa situação, Claudia aponta o acesso à informação como um ponto central. Cintando um o Rally da Safra, grande evento do agronegócio brasileiro, disse que pesquisou para tentar materializar os atores do sitema agroalimentar, mas disse que hoje se torna cada dia mais difícil chegar ao “ personagem último”. Ou seja, a uma pessoa, uma família ou um grupo empresarial com responsabilidades claras sobre os empreendimentos agrícolas.

Trata-se de um processo de “financeirização da agricultura, com grupos de investimento, dinâmicas de apropriação de terras e da água”. Para mudar essa realidade, Claudia destaca desafios à sociedade civil organizada: articular o debate se segurança alimentar ao de Justiça Ambiental, principalmente diante do fortalecimento dos créditos de carbono; e se mobilizar pelo acesso ao conhecimento sobre as fusões empresariais do ramo da alimentação.

É saudável ou é propaganda?

Para Inees Rugari, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a palavra chave do sistema agroalimentar é “complexidade”. Ela explicou que o campo da Saúde costuma partir da “pessoa doente ou saudável para pensar o mundo”. Ou seja, “seria como pensar no cotidiano das pessoas e, depois,de que forma podemos interferir para apresentar escolhas mais adequadas, saudáveis, coerentes”. Como interferência, destaca o trabalho está o papel da mídia.“As estratégias usadas parecem um filme de terror, ainda mais quando dirigido ao público infantil. Eu diria até que é enojante”, declarou.

Inês apontou que a visão de alimento passada nos meios de comunicação deve ser combatida, como a “felicidade com o consumo de um alimento” ou a “a chamada medicalização dos alimentos, em que o nutriente de um alimento se torna uma capsula”. “Os ultraprocessados não são alimentos, são produtos comestíveis. Isso não é um detalhe, é político assim como o consumo, seja individual ou coletivo”.

Uma classificação cunhada no Brasil separa os alimentos em três grupos: in natura, ingredientes extraídos para fins de culinária – como farinha e óleo –, e alimentos ultraprocessados. “Quando a gente organiza os alimentos dessa forma, localizamos um aumento vertiginoso dos ultraprocessados no Brasil. Chega à ordem de 30%. Na Europa, essa participação é de 70%. Nos Estados Unidos, 9 entre 10 produtos mais consumidos são ultraprocessados. Embora no Brasil ocorra esse aumento, acredito que temos um cenário passível de reversão. E ainda temos um ecossistema favorável para isso”, analisou.


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