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Dia Internacional da Doença Celíaca: a dieta sem glúten


Data de Publicação: 12 de maio de 2023


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A doença celíaca (DC) é uma enteropatia autoimune, causada pela ingestão de glúten em indivíduos com predisposição genética (MOSCA & PELLEGRINI, 2021), na qual é gerado um estado inflamatório da mucosa duodenal e, consequentemente, pode levar à atrofia completa das vilosidades (LUDVIGSSON; LEFFLER; BAI et al., 2013). Vilosidades saudáveis são importantes para a digestão e absorção adequada dos nutrientes advindos dos alimentos. Pessoas com DC produzem anticorpos que, quando combinadas com citocinas, podem sofrer efeito direto das células imunológicas, com consequente prejuízo ao intestino e acarretando o achatamento das vilosidades (FASANO, 2015). Geralmente surge na infância, mas pode se desenvolver na fase adulta e também no envelhecimento, no qual o mecanismo pode ser algum fator traumático ou estressante que desencadeia a autoimunidade nessas pessoas predispostas (LIONETTI et al., 2015; PARRA-MEDINA et al., 2015).

A ingestão de glúten tem sido associada a uma série de distúrbios clínicos, chamados Desordens Relacionados ao Glúten (DRGs), que epidemiologicamente, têm sido considerados bastante relevantes. Além da DC, o espectro desses distúrbios inclui Dermatite Herpetiforme (DH), Sensibilidade ao Glúten Não-Celíaca (SGNC), Alergia ao trigo e Ataxia pelo Glúten (AL-TOMA et al., 2019).

A estimativa de prevalência mundial da DC é 1,4% da população com sorologia positiva, e de 0,7% com diagnóstico confirmado por biópsia. Este número pode ser maior devido ao subdiagnóstico, pois foram demonstradas grandes variações entre os países, devido à composição genética e heterogeneidade da população, condições econômicas e hábitos alimentares, por exemplo (SINGH et al., 2018). N a população adulta, a prevalência varia entre uma pessoa a cada 100 e uma a cada 300 em quase todo o planeta. É mais frequente no sexo feminino e atinge principalmente indivíduos com ascendência europeia. No Brasil, as regiões Sul e Sudeste têm a maior prevalência, tanto pela forte colonização europeia quanto pela maior disponibilidade de exames para diagnóstico (SINGH et al., 2018).

Os exames sorológicos comumente utilizados para diagnóstico e também para acompanhamento da adesão ao tratamento são quatro: Dosagem de IgA total, anticorpos anti transglutaminase IgA, anticorpos anti endomísio IgA e anticorpos anti gliadina IgA e IgG desamidados (IgG realizado em casos de deficiência de IgA, muito comum em pacientes com DC (BAYKAN et. al., 2022) e em crianças menores de dois anos, para não as submeter a endoscopia com biópsia (CREHUÁ-GAUDIZA et al., 2021). O exame histopatológico do material coletado na biópsia duodenal é considerado o padrão ouro para o diagnóstico de DC. As amostras devem ser coletadas com quantidade suficiente e de vários pontos. O recomendado são 2-3 biópsias do bulbo duodenal e 4-6 biópsias ao longo do duodeno distal. Essas regiões são importantes, pois são o primeiro ponto de contato com a digestão. Os achados histopatológicos associados à DC ativa incluem os achados principais: relação vilo-cripa, infiltrado de linfócitos na lâmina própria e classificação na Escala de Marsh (BRASIL, 2015; CHARLESWORTH, 2020).

A recomendação é de que todos os exames para investigação da DC devem ser feitos enquanto o paciente ainda estiver ingerindo glúten, pois quando se retira o glúten da dieta, caso o paciente seja celíaco, os anticorpos deixam de circular na corrente sanguínea e o intestino começa a se recuperar, portanto, para um diagnóstico mais confiável, a ingestão de glúten é importante (OXENTENKO, RUBIO-TAPIA, 2019; CHARLESWORTH, 2020).

Após o diagnóstico positivo, a dieta sem glúten é iniciada e a melhora nos sintomas é observada rapidamente com a recuperação da mucosa intestinal, na maioria dos casos, em até dois anos, e também desempenha papel na diminuição do risco a longo prazo de outras complicações (LEBWOHL; SANDERS; GREEN, 2018; SCHIEPATTI et al., 2022). O glúten é uma proteína encontrada em diversos cereais, e é uma combinação das proteínas prolamina e glutelina. No caso da DC, o tipo de glúten que desencadeia a autoimunidade de forma majoritária é o do trigo, onde suas frações são as proteínas gliadina (do grupo das prolaminas) e glutenina (do grupo das glutelinas), mas outros cereais também desencadeiam a reação autoimune, como centeio e cevada (devido à similaridade das prolaminas secalina e hordeína) e aveia (por contaminação cruzada com trigo, hoje temos produção de aveia certificada sem contaminação cruzada por glúten, mas, alguns celíacos podem reagir à avenina, prolamina da aveia). (SHEWRY, 2019; VERDU, SCHUPPAN, 2021).

Até o momento, o único tratamento considerado seguro para a DC é a dieta de exclusão do glúten e também a alimentação livre de contaminação cruzada por glúten (STUDERUS et al., 2018; SILVESTER et al., 2020).

O mês de maio foi escolhido para ser o mês de conscientização sobre a Doença Celíaca. Durante esse mês, temos a campanha Maio Verde, onde em algumas cidades no mundo todo, no dia 16 de maio, que é o Dia Internacional da Doença Celíaca, alguns monumentos ficam iluminados na cor verde. No Brasil, o dia 20 de maio é o Dia Nacional do Celíaco, e muitas cidades também iluminam de verde prédios e monumentos. É um mês importante para colocarmos ações em prática em prol dos celíacos.

O Nutricionista é fundamental no acompanhamento do paciente com DC, visto que conseguirá corrigir com uma dieta balanceada possíveis deficiências nutricionais ocasionadas pela má absorção, mas é importante que o profissional entenda sobre a DC para poder orientar bem o paciente, pois, não é só retirar o glúten da dieta, o paciente também precisa cuidar da contaminação cruzada, aprender a ler os rótulos dos produtos e entender da doença no geral, para poder gerenciar melhor sua dieta.

 

Referências:

  1. AL-TOMA, Abdulbaqi et al. “European Society for the Study of Coeliac Disease (ESsCD) guideline for coeliac disease and other gluten-related disorders.” United European gastroenterology journal vol. 7,5 (2019): 583-613. doi:10.1177/2050640619844125
  2. BAYKAN A, Cerrah S, Ciftel S, et al. (July 03, 2022) A No-Biopsy Approach for the Diagnosis of Celiac Disease in Adults: Can It Be Real?. Cureus 14(7): e26521. DOI 10.7759/cureus.26521
  3. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença Celíaca. Portaria Nº 1149, de 11 de novembro de 2015.
  4. CHARLESWORTH RP. Diagnosing coeliac disease: Out with the old and in with the new? World J Gastroenterol 2020; 26(1): 1-10 [PMID: 31933510 DOI: 10.3748/wjg.v26.i1.1]
  5. CREHUÁ-GAUDIZA, Elena et al. "Diagnosis of Celiac Disease in Clinical Practice: Present and Future." Anales De Pediatría 94.4 (2021): 223-29. Web.
  6. FASANO, Alessio. Dieta sem glúten: um guia essencial para uma vida saudável; Alessio Fasano e Susie Flaherty; tradução Bianca Rocha. - São Paulo: Madras, 2015.
  7. LEBWOHL, B; Sanders, DS; Green, PHR. Coeliac disease. The Lancet. Volume 391, Issue 10115. 2018. Pages 70-81, ISSN 0140-6736, https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)31796-8
  8. LIONETTI, Elena; Gatti, Simona; Pulvirenti, Alfredo; Catassi, Carlo. Celiac disease from a global perspective. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. Volume 29, Issue 3, 2015. Pages 365-379, ISSN 1521-6918, https://doi.org/10.1016/j.bpg.2015.05.004. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S152169181500058X)
  9. LUDVIGSSON, J.F., Leffler, D.A., Bai, J.C., Biagi, F., Fasano, A., Green, P.H., Hadjivassiliou, M., Kaukinen, K., Kelly, C.P., Leonard, J.N., Lundin, K.E. The Oslo definitions for coeliac disease and related terms. Gut. 2013 Jan 1;62(1):43-52.
  10. MOSCA, A. C., & PELLEGRINI, N. (2021). Toward an innovative gluten-free diet. In R. Mauro (Ed.), Biotechnological strategies for the treatment of gluten intolerance (pp. 131–153). Academic Press. https://doi-org/10.1016/B978-0-12-821594-4.00002-5
  11. OXENTENKO, A.S. and RUBIO-TAPIA, A. Celiac disease. Mayo Clin Proc, 94 (12) (2019), pp. 2556-2571
  12. PARRA-MEDINA R, Molano-Gonzalez N, Rojas-Villarraga A, et al. Prevalence of celiac disease in latin america: a systematic review and meta-regression. PLoS One. 2015;10(5):e0124040. Published 2015 May 5. doi:10.1371/journal.pone.0124040
  13. SCHIEPATTI, Annalisa; Maimaris, Stiliano; Nicolardi, Maria Luisa; Alimenti, Eleonora; Vernero, Marta; Costetti, Martina; Costa, Stefania; Biagi, Federico. Determinants and Trends of Adherence to a Gluten-Free Diet in Adult Celiac Patients on a Long-term Follow-up (2000–2020). Clinical Gastroenterology and Hepatology. Volume 20, Issue 4. 2022. Pages e741-e749. ISSN 1542-3565. https://doi.org/10.1016/j.cgh.2020.12.015.
  14. SHEWRY, P (2019) What Is Gluten—Why Is It Special? Front. Nutr. 6:101. doi: 10.3389/fnut.2019.00101
  15. SILVESTER, Jocelyn A et al. “Most Patients With Celiac Disease on Gluten-Free Diets Consume Measurable Amounts of Gluten.” Gastroenterology vol. 158,5 (2020): 1497-1499.e1. doi:10.1053/j.gastro.2019.12.016
  16. SINGH, P., Arora, A., Strand, T.A., Leffler, D.A., Catassi, C., Green, P.H, Kelly, C.P., Ahuja, V., Makharia, G.K. Global Prevalence of Celiac Disease: Systematic Review and Meta-analysis. Clin. Gastroenterol Hepatol. 2018 Jun;16(6):823-836.e2.
  17. STUDERUS, D., Hampe, E. I., Fahrer, D., Wilhelmi, M., & Vavricka, S. R. Cross-Contamination with Gluten by Using Kitchen Utensils: Fact or Fiction? Journal of Food Protection. 2018: 81(10), 1679–1684.
  18. VERDU, Elena F.; SCHUPPAN, Detlef. Co-factors, Microbes, and Immunogenetics in Celiac Disease to Guide Novel Approaches for Diagnosis and Treatment. Gastroenterology. Volume 161. Issue 5. 2021. Pages 1395-1411.e4. ISSN 0016-5085. https://doi.org/10.1053/j.gastro.2021.08.016.

Fabiana Magnabosco de Vargas CRN-2 18070D
Graduada em Nutrição pela Universidade La Salle (Unilasalle)
Graduada em Química pela Universidade La Salle (Unilasalle)
Mestranda em Alimentos, Nutrição e Saúde (UFRGS)
Pós-graduada em Comportamento Alimentar (IPGS)
Presidente da Associação dos Celíacos do Brasil, seção RS (ACELBRA RS)


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