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Seminário "Agrotóxicos e OGMs" marca Semana da Alimentação


Data de Publicação: 19 de outubro de 2013
Crédito da Matéria: Assessoria imprensa - CRN-2


O Seminário “Agrotóxicos e OGMs: Perigo à mesa”, promovido pelo CRN-2, foi realizado no dia 19 de outubro, em Porto Alegre. O evento integrou a programação da Semana da Alimentação RS 2013 e teve como objetivo debater os riscos dos agrotóxicos e Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) para a saúde humana. A programação contou com a participação de especialistas nos assuntos que abordaram a produção, consumo e rastreabilidade dos alimentos, além de questões sobre sustentabilidade. Participaram do evento, aproximadamente, 160 pessoas, entre nutricionistas, estudantes e outros profissionais com interesse em debater agrotóxicos e transgênicos. Como resultado das fichas de avaliações, a maioria dos participantes apontou o evento como “muito bom”, tanto as palestras quanto a estrutura disponibilizada. Também elogiaram os temas debatidos, a qualidade das palestras e o local, parabenizando o CRN-2 pela iniciativa.

   A vice-presidente Carmem Franco fez a abertura do evento destacando a importância de nutricionistas abordarem esse assunto. Um dos motivos, segundo ela, é que esses profissionais têm no alimento seu instrumento de trabalho. “Como nutricionistas indicamos o alimento e como consumidores fazemos uso dele, por isso precisamos saber que alimento consumimos e qual a sua procedência”. Carmem também foi a coordenadora do primeiro momento “Produção e consumo de alimentos: perspectivas e desafios”, que contou com palestras do engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo e da nutricionista Suzi Barletto Cavalli, membros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

   Na sequência, foi realizada a mesa-redonda “Rastreabilidade dos alimentos”, coordenada pela conselheira secretária Ana Lice Bernardi. Participaram desse momento, os engenheiros agrônomos José Werlang, do Ministério da Agricultura, e Ari Uriartt, da Emater/RS-Ascar.

   “Alimentação Saudável e Sustentabilidade” foi o tema do último debate da tarde. A mesa-redonda foi coordenada pela conselheira tesoureira Rosana Carolo. Os professores, nutricionista Francisco Amaro, da UCS e Unilasalle, e a engenheira agrônoma Ingrid de Barros, da UFRGS, foram os integrantes da mesa.

A presidente do CRN-2, Ivete Barbisan, encerrou o evento, agradecendo a participação e o prestígio do público. Lembrou que este seminário integra a Semana da Alimentação, um momento muito importante dentro do calendário de eventos do Conselho de Nutricionistas. Evidenciou que o CRN-2 sente-se muito honrado em ser promotor da Semana da Alimentação do Rio Grande do Sul, junto com o Governo do Estado, Consea/RS, Emater Ascar, Fesans e Ação da Cidadania. Finalizou destacando que “o CRN-2 tem o compromisso de disponibilizar, aos profissionais e à sociedade, temas que dizem respeito ao nosso fazer diário. Por isso propusemos a realização desse seminário para debater agrotóxicos e transgênicos.”

   Além das representantes do CRN-2 indicadas acima, também prestigiaram o evento, as conselheiras Juracema Daltoé e Ivete Dornelles.

Debates

Perigos dos agrotóxicos

 Leonardo Malgarejo iniciou explicando como funciona a técnica de aplicar agrotóxicos e os perigos que representam. Citou exemplos de monoculturas invadidas por outras plantas, tirando o lucro daquela que foi semeada. Para que isso não ocorra, segundo o engenheiro agrônomo, era colocado herbicida específico. “Isso afetava a plantaçãoe as folhas que não eram para ser “intoxicadas”. Foi desse cenário que surgiram os transgênicos, pois são plantas capazes de absorver o veneno e ainda assim se desenvolverem.” Melgarejo lembrou que essa tecnologia cria uma reação da natureza. “É cada vez mais difícil encontrar uma semente que não seja transgênica. Como pode ser seguro esse alimento que absorve todo o veneno jogado nele?”.  O agrônomo apontou um ponto preocupante: o herbicida mais usado no Brasil é rejeitado nos Estados Unidos e Europa, pois é associado ao que foi jogado no Vietnã. Existem propostas de lei para proibir o uso dele aqui no Brasil. Outro fator importante é exposição humana aos agrotóxicos. No interior as pessoas absorvem o veneno pela pele, água e ar. 

   A importância do nutricionista no debate desse assunto foi ressaltada pelo palestrante: “Nós, da agronomia, dependemos dos nutricionistas, pois esse trabalho de conscientização deve ser feito em conjunto. A população ainda não sabe de toda a extensão dos riscos dos transgênicos.”

“Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%”. Esses dados foram apresentados pela nutricionista Suzi Barletto Cavalli, mostrando que, desde 2008, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos.  Os mitos e verdades sobre os agrotóxicos foram destacados pela nutricionista. Lavar ou usar água sanitária nos alimentos não remove os agrotóxicos, os resíduos tóxicos não ficam apenas na casca, comentou a palestrante.

   O dossiê ABRASCO foi lembrado pela nutricionista, pois ele tem como objetivo alertar as autoridades públicas e a sociedade para a construção de políticas públicas para a proteção da saúde humana. Suzi lembrou que há opções para consumo de frutas e hortaliças que possuem riscos diferentes de contaminação, como a bergamota que possui baixo risco, a banana, médio e a maçã que possui alto risco. Suzi também comentou sobre o parecer do CFN sobre os transgênicos. Um dos pontos desse documento é de que os nutricionistas devem valorizar os alimentos produzidos de forma orgânica e agroecológica, respeitando a cultura alimentar. A nutricionista encerrou sua fala ressaltando que o consumo da população determina a produção dos alimentos.

Rastreabilidade

 O engenheiro agrônomo José Werlang apresentou algumas legislações que orientam a segurança e qualidade dos alimentos. Ele citou a rastreabilidade como um importante fator para assegurar qualidade dos alimentos e bebidas.  “O objetivo da rastreabilidade é identificar resíduos agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população.”  Porém, alertou que não adianta somente detectar a presença de resíduos ou de contaminantes no produto final, “é necessário trabalhar com toda a cadeia produtiva para resolver os problemas e apurar responsabilidades. A solução pode passar  por alterações nas formas de cultivo e de manejo das culturas”. Werlang, que é fiscal federal agropecuário, listou alguns perigos à saúde que podem estar contidos nos alimentos de origem vegetal, como os resíduos de agrotóxicos; contaminantes, como metais pesados; e aditivos, como antibióticos. O agrônomo explicou que tem causado preocupação o uso de antibióticos como conservantes de alimentos.  “Inexiste uma legislação que permita fiscalização das cadeias de produção de alimentos. A pressão da sociedade é a única forma de mudança” finalizou Werlang.  

   Ari Uriartt iniciou sua fala explicando o que pode ser considerado produto orgânico: “são aqueles produzidos de forma orgânica ou extrativista sustentável e podem ser processados ou não. Os alimentos chamados ecológicos, biodinâmicos, naturais, agroecológicos, também são considerados orgânicos.” Ele lembrou que, desde 2011, os produtos orgânicos passaram a ser garantidos pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg). Entre as mais de 220 espécies vegetais cultivadas em sistemas orgânicos no estado, destacam-se a cebola, a uva e o tomate. O engenheiro agrônomo evidenciou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que, a partir de 2009, com a aprovação da Lei nº 11.947, definiu que a merenda escolar deve conter, pelo menos, 30% dos produtos da agricultura familiar. “Privilegiando os alimentos orgânicos, o programa da merenda escolar procura assegurar que os produtos que serão consumidos pelos estudantes sejam alimentos bem variados e livres de agrotóxicos”.

Alimentação Saudável e Sustentabilidade

 A engenheira agrônoma Ingrid de Barros alertou que os modelos insustentáveis de produção de alimentos estão degradando o ambiente natural, ameaçando os ecossistemas e a biodiversidade, além de comprometer o abastecimento futuro de alimentos. Ela ressaltou a pesquisa sobre o arroz dourado, um produto transgênico que foi criado, mas caiu no desuso porque não cumpria a função nutricional.  Ingrid enfatizou o preço que a população tende a pagar pelas preferências e facilidades ao adquirir produtos alimentícios. Mostrou, como exemplo, a cenoura, que, quanto mais alaranjada e perfeita, mais chama a atenção do consumidor. Sustentou que o produto orgânico e mais saudável não tem essa simetria e coloração. Também advertiu que a cor da raiz possui um pigmento específico, com diferentes benefícios à saúde. E ainda, que as pessoas procuram, com muita frequência, produtos industrializados, como opção ao natural.  

   “Existem dois modelos diferentes de agricultura: o modelo patronal (capitalista) e o modelo familiar. A principal diferença entre os dois é que o primeiro tem interesse na padronização das práticas agrícolas enquanto o segundo dá ênfase na diversificação” ressaltou o nutricionista Francisco Amaro. Quanto ao uso de agrotóxicos, ele mostrou uma pesquisa feita com agricultores no interior do estado do Espírito Santo, salientando que 42% se sentem mal após aplicação, 96% crêem que fazem mal a saúde e 55% deles têm medo de aplicar os produtos. Francisco ressaltou dados do boletim epidemiológico, produzido pela Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, o qual informa que o uso de agrotóxicos tem tido um crescimento significativo, não apenas nas atividades da área agrícola. “É usado na preservação de madeira, armazenamento de sementes, controle de pragas. O uso dos agrotóxicos é maior do que nos parece”. 


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