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Dia Mundial do Câncer: como a Nutrição pode auxiliar na prevenção e combate à doença.


Data de Publicação: 4 de fevereiro de 2024
Crédito da Matéria: Assessoria de Comunicação CRN-2
Fotos: Canva.com
Fonte: Patrícia Flores (CRN-2 9673)


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O Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, é uma iniciativa da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), a maior e mais antiga organização internacional dedicada ao controle da doença, que reúne mais de mil organizações ligadas ao câncer em cerca de 160 países. Trata-se de uma data importante de conscientização no calendário de saúde, que propõe ações de educação e de conscientização.

Conversamos com a nutricionista Patrícia Flores (CRN-2 9673), que é especialista em Nutrição Oncológica pela Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica e tem experiência na área de assistência hospitalar, consultoria nutricional e atendimento domiciliar, com foco na reabilitação nutricional. Ela falou sobre a atuação do nutricionista oncológico e como a nutrição e uma vida saudável podem ajudar no combate e tratamento a doença. Confira!

Qual o papel do nutricionista quando falamos de combate ao câncer?

O câncer pode afetar qualquer pessoa, mas algumas estão em maior risco do que outras. Embora alguns fatores de risco, como mutações genéticas herdadas, sejam permanentes, uma gama de fatores ambientais e de estilo de vida são modificáveis e podem ter uma forte influência sobre o risco de câncer, o que significa dizer que muitos casos são evitáveis. Estima-se que entre 30 e 50% de todos os casos de câncer são preveníveis adotando estilos de vida saudáveis e evitando a exposição a carcinógenos ocupacionais, poluição ambiental e certas infecções crônicas. Evitar qualquer forma de tabaco, ter uma dieta e uma nutrição adequadas e praticar atividade física têm potencial, ao longo do tempo, de reduzir grande parte da carga global de câncer. No entanto, com as atuais tendências de diminuição da atividade física e de aumento da gordura corporal, é esperado que a carga global de câncer continue a subir, especialmente dadas as projeções de envelhecimento da população mundial. Se as tendências atuais continuarem, o sobrepeso e a obesidade estão suscetíveis a ultrapassar o tabagismo como o principal fator de risco para o câncer.

Pacientes oncológicos podem ter seu estado nutricional comprometido? Por quê?

O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, figurando como uma das principais causas de morte. O impacto da incidência e da mortalidade por câncer está aumentando rapidamente no cenário mundial. Para o Brasil, a estimativa para o triênio de 2023 a 2025 aponta que ocorrerão 704 mil casos novos de câncer. O tratamento e a doença em si apresentam vários efeitos adversos, podendo influenciar consideravelmente o estado nutricional e o consumo alimentar do paciente. As alterações metabólicas, morfológicas e funcionais podem tornar o paciente oncológico mais suscetível ao aparecimento de desnutrição. A avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar é imprescindível para uma melhora no quadro clínico do paciente oncológico.

Como o nutricionista pode auxiliar pacientes em tratamento para o câncer?

A avaliação do estado nutricional é imprescindível para identificar pacientes em risco nutricional e verificar o grau de desnutrição. Desse modo, é necessário abranger um maior número possível de aspectos que possam comprometer o estado nutricional do paciente, como perda de peso e massa muscular, diminuição do consumo alimentar e sintomas que interferem no tratamento, com o objetivo de evitar futuras complicações e dificuldades no tratamento do paciente. Dessa maneira, a avaliação nutricional do paciente com câncer é fundamental para a realização da intervenção nutricional correta e precoce, o que evita maiores prejuízos no estado nutricional e piores desfechos clínicos durante o tratamento oncológico.

Como é feito o acompanhamento nutricional dos pacientes oncológicos? O que é levado em conta?

O tratamento da doença oncológica pode provocar o aparecimento de sinais e sintomas que levam à diminuição da ingestão alimentar diária, o que, consequentemente, pode comprometer o estado nutricional. O controle dos sintomas pode melhorar o aporte de nutrientes, evitando a desnutrição, melhorando a qualidade de vida do paciente e reduzindo a taxa de complicações e as interrupções dos tratamentos.

Diversas modalidades terapêuticas são utilizadas para o tratamento da doença, podendo ser combinadas entre si para se obter um melhor resultado. As mais comuns são: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e hormonioterapia. Há vários efeitos adversos do tratamento oncológico e da própria doença, dentre elas náuseas, vômitos, alterações de paladar, diarreia, aversão alimentar, xerostomia e disfagia. Tais efeitos podem influenciar significativamente a ingestão alimentar, o metabolismo e o estado geral e nutricional do indivíduo.

Durante o processo de tratamento, o consumo alimentar sofre alterações por fatores psicológicos, emocionais e sintomas provenientes da doença. Essas interferências resultam em uma significativa diminuição dos alimentos ingeridos, podendo levar ao comprometimento do estado nutricional. As estratégias nutricionais deverão ser de acordo com as necessidades nutricionais (priorizando a via oral), a fim de garantir um melhor aporte calórico e proteico e minimizar os sinais e sintomas de impacto nutricional (como náuseas, disfagia, mucosite, diarreia, xerostomia, disgeusia e constipação). A intervenção nutricional adequada está associada a maior taxa de sobrevida e melhora do estado nutricional, da ingestão alimentar, da capacidade funcional e da qualidade de vida.

A quimioterapia e a radioterapia resultam em toxicidade para o TGI, com o surgimento de efeitos colaterais, como anorexia, náusea, vômito, disgeusia, mucosite, diarreia e xerostomia, entre outros. Pequenas e constantes modificações devem ser incentivadas para aumentar a ingestão alimentar. Vários estudos mostraram que o aconselhamento nutricional melhora a ingestão e a qualidade de vida dos pacientes com câncer.

Quais os objetivos da terapia nutricional para o paciente oncológico?

  • Manter ou recuperar o estado nutricional.
  • Melhorar a resposta imunológica.
  • Implementar um plano nutricional individualizado que atenda às exigências nutricionais durante todas as fases do tratamento.
  • Controlar os efeitos adversos do tratamento (sinais e sintomas de impacto nutricional).
  • Reduzir complicações pós-operatórias.
  • Contribuir para redução do tempo de internação hospitalar e diminuição de morbimortalidade.
  • Melhorar a qualidade de vida.

A alimentação adequada pode prevenir alguns tipos de câncer?

 A alimentação tem sido associada com o processo de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, principalmente os de mama, intestino, próstata, esôfago e estômago. Alguns alimentos protegem o organismo e outros aumentam o risco de surgimento da doença. Além disso, o peso corporal também tem relação com o câncer. Frutas, verduras e legumes contêm nutrientes, tais como vitaminas e fibras, que auxiliam as defesas naturais do corpo. Procure consumir, no mínimo, cinco porções, equivalente a 400 gramas, de frutas, legumes e verduras variadas todos os dias. Lembre-se que vegetais como batatas, mandioca e inhame não entram nessa conta. Prefira carnes cozidas ou assadas.

Frutas, vegetais e leguminosas: Frutas, vegetais e leguminosas formam um grupo de alimentos diversificado e complexo. Seu consumo fornece muitos micronutrientes, assim como uma variedade de fitoquímicos. Os fitoquímicos que demonstraram efeitos anticancerígenos incluem fibra dietética, carotenoides, ditioltionatos, isotiocianatos, flavonoides e fenóis. Frutas, vegetais e leguminosas também são uma fonte rica de vários nutrientes que podem afetar o risco de câncer, como vitaminas C e E, selênio e folato.

Que tipo de alimentos e hábitos devemos evitar para prevenir o câncer?

Alguns tipos de alimentos, se consumidos regularmente durante longos períodos de tempo, podem transformar células saudáveis em células cancerosas. É o caso de alimentos gordurosos, salgados e enlatados. Por isso, procure evitar frituras, carnes com gordura aparente e embutidos, como linguiças, salsichas, salames, presuntos e blanquet, dentre outros. Em relação ao consumo de álcool não há uma dose segura, por isso evite o consumo de bebidas alcoólicas e não fume.

Carne vermelha e processada: O cozimento de carnes a temperaturas elevadas resulta na formação de aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, que têm potencial mutagênico e têm sido associados ao desenvolvimento de câncer.

O alto teor de sal da carne processada pode resultar em danos ao revestimento da mucosa do estômago, levando à inflamação, à atrofia e à colonização por Helicobacter pylori.

Bebidas alcoólicas: O consumo de bebidas alcoólicas é causa de muitos tipos de câncer. Não há limite seguro de ingestão.

Existem dez recomendações de prevenção do câncer. Cada uma representa uma ação que integra um conjunto de comportamentos que, quando adotados em conjunto, promovem um padrão saudável de dieta e atividade física convergente à prevenção do câncer, outras DCNT e obesidade.

A evidência de que um maior teor de gordura corporal é causa de muitos tipos de câncer é particularmente forte; portanto, a seguinte recomendação é apresentada primeiro:

  • Ter um peso saudável.

As duas recomendações a seguir promovem mudanças positivas que podem ser feitas para reduzir tanto o risco de câncer quanto o risco de ganho de peso, sobrepeso e obesidade (que estão associados a um risco aumentado de câncer):

  • Ser fisicamente ativo.
  • Consumir uma dieta rica em cereais integrais, vegetais, frutas e leguminosas.

As próximas quatro recomendações concentram-se no que cada indivíduo deve fazer para reduzir o risco de câncer ou de ganho de peso, sobrepeso e obesidade, e são listadas por ordem de alimentos e bebidas:

  • Limitar o consumo de fast food e outros alimentos processados ricos em gordura, amidos ou açúcares.
  • Limitar o consumo de carne vermelha e de carne processada.
  • Limitar o consumo de bebidas açucaradas.
  • Limitar o consumo de bebidas alcoólicas.

A próxima recomendação diz respeito a suplementos:

  • Não usar suplementos para prevenção do câncer.

Por fim, duas recomendações especiais direcionadas a grupos específicos de pessoas:

  • Para as mães: amamentar seu bebê, se puder.
  • Após um diagnóstico de câncer: seguir essas recomendações, se puder.

O uso de suplementos alimentares previne o câncer?

Suplementos alimentares não são recomendados para a prevenção do câncer. São produtos destinados a complementar a dieta alimentar normal e só devem ser usados sob orientação profissional. Aumente o consumo dos nutrientes por meio da alimentação.

A nutrição ideal é uma marca registrada do tratamento bem-sucedido do câncer, pois pode aliviar a carga dos sintomas, melhorar a saúde e a qualidade de vida e apoiar a sobrevivência.

 

Referências:

Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2022.

Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica I Consenso brasileiro de nutrição oncológica da SBNO / Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica; organizado por Nivaldo Barroso de Pinho. –– Rio de Janeiro: Edite, 2021.

BRASPEN, Diretriz Braspen de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer; BRASPEN J 2019; 34 (Supl 1):2-32.

Dieta, nutrição, atividade física e câncer : uma perspectiva global : um resumo do terceiro relatório de especialistas com uma perspectiva brasileira / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Rio de Janeiro: INCA, 2020.

 

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