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Combate a obesidade: para além dos padrões estéticos


Data de Publicação: 1 de março de 2024
Crédito da Matéria: Assessoria de Comunicação CRN-2
Fotos: Canva.com
Fonte: Flavia Felippe (CRN-2 10378D)


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O dia 4 de março é o Dia Mundial da Obesidade. Essa data foi escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar as pessoas para os riscos dessa condição que, segundo o IBGE, atinge 41 milhões de brasileiros. 

Pessoas acima do peso ou obesas costumam sofrer preconceito e discriminação, julgadas como menos dignas de respeito e consideração por conta do tamanho de seus corpos. O combate à obesidade, para além da intolerância à diversidade de tamanhos e padrões estéticos, se mobiliza diante das questões clínicas que acompanham o aumento de peso e colocam em risco tanto a saúde física como a mental.  A falta do cuidado com o comer, seja na quantidade, qualidade, variedade e/ou frequência desregula, desequilibra e acaba por adoecer o organismo como um todo.

Podemos definir a obesidade pelos seguintes aspectos:

  • Aumento no IMC (Índice de Massa Corpórea)
  • Impulso no comer
  • Distorção da imagem corporal

A obesidade se assemelha ao alcoolismo e outras adições e, como tal, precisa ser compreendida como uma doença de descontrole e dependência. Há um comportamento adquirido, onde comida/bebida são usados como alívio de tensão, conforto, fonte de prazer, recompensa e resposta a emoções como tristeza, raiva, medo, ansiedade e mesmo felicidade. O obeso aprende a lidar com as emoções através de um comportamento automático, que vai da emoção diretamente à ação de comer/beber, sem processar o que, de fato, sente. O alimento, usado como recompensa, faz parte de um ciclo vicioso, onde o comer alivia por um lado, mas também traz tristeza, impotência e frustração. Isso acaba por diminuir a determinação e destruir a autoestima, levando a mais episódios de compulsão e recaída.

Pontos a considerar:

O perfil comum de uma pessoa com obesidade ou sobrepeso se caracteriza por perfeccionismo, autocrítica e julgamento severo. O obeso precisa, portanto, de ajuda para flexibilizar, ser menos duro nas críticas, tolerar as dificuldades e recaídas - que fazem parte da doença-, e aprender a retomar o cuidado. Paciência, olhar gentil e autocompaixão são necessários, visto que junto com o aumento de peso, há uma grande carga de sofrimento. Por esse motivo, uma dieta restrita, radical, com privações, não é indicada aqui. Da mesma forma, “metas e desafios” podem reforçar o padrão rígido e acabar por prejudicar a compreensão do problema.

O tratamento da obesidade passa por apoio profissional das áreas da saúde (nutrição, psicologia, educação física) com informação técnica e científica. Requer uma equipe capacitada e competente, principalmente, diante da enorme oferta de informações entregues pelas redes sociais, que mais angustiam e desafiam do que propõem um tratamento efetivo.

Outro ponto importante é a orientação à família de quem sofre com o aumento de peso, que precisa ser considerada e envolvida para que a mudança de hábitos e estilo de vida beneficie a todos. Comumente os familiares não compreendem o funcionamento do adicto com o alimento e acabam favorecendo o descontrole, a semelhança do alcoolismo.

Estágios para a mudança:

 Para tratar a dependência, os autores Prochaska e Di Clemente propõem um modelo transteórico sobre Motivação:

Pré-contemplação > Contemplação > Preparação >Ação > Manutenção > Recaída.

Nessa direção, é preciso desenvolver autonomia e responsabilidade pela própria mudança e criar estratégias para vencer, tais como:

  1. Exercitar o controle percebido: quando eu consigo desviar do impulso no comer? quando me sinto mais bonito? quando tenho em casa alimentos saudáveis?
  2. Identificar as situações de alto risco: posso evitar alguma situação que ameacem meu controle? Como?
  3. Evitar o pensamento preto e branco, tudo ou nada e, assim, diminuir sentimentos de culpa e vergonha por ter relaxado nos cuidados alimentares.
  4. Antecipar e prevenir, lidar com o lapso, antes que se torne recaída.

Caminho:

  1. Compromisso e motivação:  aumentam a capacidade de tomar decisões, melhoram a rede de apoio (pessoal/profissional).
  2. Implantação da mudança para abandonar a dependência, identificar ameaças, tentações, hábitos inadequados; antecipar estressores.
  3. Manutenção da mudança:  treino a enfrentamentos SEM o apoio do alimento.

Dicas:

  • Não estabelecer metas, porque frustram, reforçam o comportamento padrão exigente e incompetente.
  • Para evitar a recaída, manter o aprendizado e repetir até incorporar o hábito saudável.
  • Prestar atenção ao momento e nomear o sentimento. Quanto mais conscientes e acolhedores, menos comida é necessária como apoio.
  • Promover autocontrole, aprender, treinar habilidades, mudar o estilo de vida.

Esse ciclo gera sofrimento e desesperança. A recaída é natural no processo de emagrecimento e manutenção do novo estilo de vida.

Premissas fundamentais:

Sabemos que comportamentos são aprendidos e, sendo assim, é possível reprogramá-los, aprender e reverter, comer de outra forma.  A mudança vai se dar na aquisição de uma nova atitude e sua repetição até que se torne um hábito saudável.

Objetivo: metas claras, reais, factíveis, que estimulem e auxiliem na validação e valorização de cada passo na caminhada.

Foco: atenção voltada ao processo e não ao peso. A meta de peso, frequentemente, se torna estressante, as mudanças precisam ser muito além do peso e balança, como novos hábitos, novas rotinas, percepção corporal, fortalecimento do posicionamento frente às ofertas, eventos e tentações. É preciso desenvolver um projeto para a vida, não apenas para a próxima festa.

Ambiente limpo: sem ameaças e repleto de oportunidades de autocuidado. Limitar a exposição de alimentos processados e ultraprocessados, que são produtos de baixo valor nutricional, tais como refrigerantes álcool, ultra processados, guloseimas, biscoitos, bolos, sorvetes. E aumentar a oferta de alimentos naturais, frescos e saudáveis de forma atraente e saborosa.

Planejamento: eventos e viagens necessitam que se pense nas ofertas, desafios e desejos de comer aquilo que realmente vale a pena e que queremos desfrutar, evitando a caída total.

Organização da semana: relacionar lista de compras para o mercado/feira e estabelecer cardápios para o dia a dia e fins de semana organizam a vida alimentar, evitando improvisos e descontroles.

Foco no lazer e na atividade física: para fortalecer o autocontrole e a mudança do estilo de vida, vamos identificar prazeres que preenchem o corpo e a alma e dão lugar a novos sabores, que não os gastronômicos.

Retomada: após um episódio de descontrole ou ingestão de alimentos pouco saudáveis, o indicado é voltar ao plano alimentar em 3 horas. Retomar os cuidados após um desvio, vai aliviar a culpa e a vergonha e promoverá o retorno ao autocuidado e, por consequência, controle do peso.

Autocompaixão: um olhar gentil que permite recomeçar a cada tropeço, sem julgamento, sem crítica, com acolhimento

Constância: propósito firme, a cada dia, a cada refeição; a repetição se torna um hábito.

Exercitar o controle percebido nas situações de alto risco;

Reverter o pensamento "8 ou 80" (ou tudo ou nada), redução do conflito e aumento da autoconfiança;

Desenvolver autonomia e responsabilidade pela própria mudança e criar estratégias para vencer.

Ter a consciência de que nada é proibido e que ter o controle traz bem-estar

Aumentar a capacidade de tomar decisões, melhorar nossa rede de apoio (pessoal e profissional), treinar enfrentamentos das situações difíceis sem o apoio do alimento.

DICAS NUTRICIONAIS:

  • Hidratação: 35 ml de água por quilo corporal. O centro de saciedade da fome e sede, localizado no hipotálamo, pode confundir as sensações. Identificar a sensação de sede, fome e vontade vai auxiliar na percepção e controle da ingestão.
  • Fracionamento: ajuda no controle das quantidades nas refeições principais e na voracidade. No estado alimentado, o indivíduo percebe saciedade, e pode identificar sensações de sede, fome ou vontade.
  • Vegetais: recomenda-se a ingestão de, pelo menos, 3 frutas por dia e vegetais variados nas principais refeições, almoço e jantar. Pratos coloridos sempre!
  • Carboidrato: não é inimigo; escolha os complexos (integrais)
  • Proteína: deve estar presente em várias refeições do dia

Mais do que emagrecer, o que se pretende é manter um peso satisfatório que traga bem-estar e saúde. Autocuidado, autoconhecimento, apropriação dos sentimentos, descoberta de novas fontes de prazer e escolhas adequadas na alimentação e práticas físicas. Cuidar da saúde é uma escolha de amor à vida.

Flavia Felippe (CRN-2 10378D) é mestra e doutora na área da obesidade. Graduada em Nutrição e em Serviço Social, com formação em terapia familiar e coordenação de grupos, tem experiência na área da obesidade como professora universitária e pesquisadora, atuando, principalmente, nos temas: obesidade – ideologia – pesquisa, discriminação, grupos e intervenção-obesidade. Atualmente, coordena o serviço Leve Flavia Felippe - Saúde Alimentar para adultos e crianças. 

 

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