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Conscientização e conhecimento da Doença Celíaca


Data de Publicação: 17 de maio de 2020
Crédito da Matéria: Assessoria imprensa - CRN-2


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   Maio é o mês dedicado à conscientização da Doença Celíaca (DC), ainda tão desconhecida pela grande maioria da população. Apesar de não ser uma doença rara, por falta de conhecimento, poucas pessoas recebem o diagnóstico ou, ainda, esperam muito tempo para isso.

   Devido a importância do tema, dos desafios dos celíacos em conviver com a doença, da atenção multidisciplinar por profissionais especializados que a patologia requer, o CRN-2 convidou a nutricionista Maribel Melos, CRN-2 1699, para escrever um artigo sobre a DC.

   O nutricionista é o profissional que irá fazer uma avaliação criteriosa para correção de carências nutricionais, realizar educação alimentar do indivíduo e, também com os familiares não portadores de DC, os quais consomem alimentos com glúten. Isto porque equipamentos, como torradeiras e talheres, não podem ser compartilhados com alimentos sem glúten, pois haverá resíduos desta proteína em quantidade suficiente para desencadear reação típicas, ou seja, a contaminação cruzada.

 

Doença Celíaca (DC)

Artigo da Nutricionista Maribel Melos, CRN-2 1699

 

     A doença celíaca é a enteropatia (doença intestinal) mais extensa que leva à má absorção e é associada com uma sensibilidade à gliadina encontrada no trigo, centeio e cevada. Esta alergia ocorre devido à reação autoimune (quando o sistema imunológico ataca as células do corpo) contra as estruturas intestinais, desencadeada somente quando há consumo de alimentos que contém glúten. 
     O diagnóstico adequado da doença se compõe de vários exames. Inicialmente exames de sangue: anticorpos antigliadina e anticorpos antitransglutaminase. Em caso de resultados positivos é indicada a biópsia do intestino delgado.

 

     Por meio deste procedimento é evidenciada a atrofia vilositária e a infiltração de linfócitos intraepiteliais. Para que estes exames sejam realizados o ideal é que a pessoa esteja consumindo glúten, caso contrário o exame pode dar falso negativo.

     Atualmente há o exame genético para avaliar os haplótipos HLA DQ2 e HLA DQ8 - que podem indicar a probabilidade de desenvolver a doença. Mas ainda é preciso avaliar individualmente e, mesmo a presença destes genes não é determinante para o diagnóstico, uma vez que podem ou não ser expressos. 
Após período sem ingerir glúten, uma nova biópsia deverá ser realizada, sendo demonstrada a normalização da mucosa intestinal, confirmando definitivamente o diagnóstico da Doença Celíaca.

 

     Para quem tem este diagnóstico, o tratamento é a dieta livre de glúten.

     O doente celíaco apresenta intolerância para consumir os alimentos que contém glúten, uma vez que seu corpo não tem condições de digerir.

 

     Deve ser excluído todos os alimentos em que esta proteína esteja presente, bem como aqueles que tenham contato com o glúten no mesmo recipiente (prato, facas, embalagens, panelas, fritadeiras…), evitando a contaminação cruzada.

     O grau de sensibilidade à exposição é individual e, na maioria das vezes, depende da recuperação da mucosa intestinal.

     Por isso, é necessário que um profissional habilitado acompanhe a dieta e oriente o tratamento adequado para a reparação do ambiente intestinal.

 

Sensibilidade ao Glúten não celíaco

     Pesquisas do médico Alessio Fasano, que trata a doença celíaca desde 1993, revelaram que existem vários fatores que podem desencadear reações ao glúten e que podem consistir, ou não, na doença autoimune. O médico é fundador do Centro de Pesquisas sobre a Doença Celíaca, que funciona na Universidade de Maryland.

     A sensibilidade ao glúten é uma forma branda de intolerância à essa proteína, quando o organismo apresenta uma dificuldade para digeri-la, causando sintomas gastrointestinais, como desconforto abdominal, diarreia e constipação.

     Em pessoas com sensibilidade ao glúten, o consumo da proteína desencadeia esses sintomas clínicos, mas o sistema imune permanece inato, ou seja, o organismo não produz anticorpos para combatê-lo, como acontece na doença celíaca.

     Somos capazes de digerir completamente todas as proteínas que colocamos em nossas bocas, com exceção de uma, e que é o glúten, uma proteína estranha. Embora tenhamos comido trigo por milhares de anos, não somos projetados para digerir o glúten. Não temos as enzimas para desmantelá-lo completamente, deixando peptídeos não digeridos, que podem ser prejudiciais. O sistema imunológico pode percebê-los como um inimigo e montar uma resposta imune.

 

Tratamento da sensibilidade ao glúten

Nos casos de sensibilidade ao glúten, uma dieta de restrição à essa proteína também beneficia na eliminação dos sintomas. No entanto, em algumas situações, a pessoa que apresenta a sensibilidade e retira o glúten do cardápio, pode voltar a consumi-lo após um período de restrição. São realizados testes para diagnosticar a permanência ou não da sensibilidade ao glúten após o período sem a ingestão da proteína. A dieta de eliminação e o teste de desafio podem contribuir para o diagnóstico, que deve ser feito com acompanhamento de nutricionista ou médico.

Nesta patologia, bem como na doença celíaca, reparação do ambiente intestinal e da microbiota é fundamental para o sucesso do tratamento. A partir desta recuperação é possível que a pessoa consuma o alimento de forma rotativa, a cada 3 ou a 4 dias.

 

Alergia ao Trigo

     Além da doença celíaca e da sensibilidade ao glúten, algumas pessoas apresentam quadros de alergia ao trigo que, diferente dos outros dois diagnósticos, não representa, necessariamente, reações ocasionadas pelo glúten, mas sim, aos componentes do trigo de maneira geral.

 

     Nestes casos, a pessoa pode apresentar sintomas respiratórios, como rinite, e sintomas típicos de alergia alimentar, como desconforto gastrointestinal, urticária, angioedema ou dermatite atópica.
Sendo apenas alergia ao trigo, nestes casos a pessoa terá reações com quantidades mais expressivas do trigo, podendo consumir quantidades moderadas de aveia, centeio, cevada ou ainda não precisar observar a contaminação cruzada.

 

Mas respeitar a individualidade é fundamental.

 

 

Acompanhamento nutricional nas patologias
Retomando, a doença celíaca, a sensibilidade ao glúten e a alergia ao trigo são diagnosticadas por meio de exames e testes clínicos específicos. A retirada de quaisquer alimentos do cardápio, inclusive o glúten, só deve ser feita a partir de uma recomendação e acompanhamento nutricional e médico especializado.

 

 

O glúten virou o inimigo da vez?

     Questionamentos como: Será que o glúten é tão culpado assim? Preciso evitá-lo do meu dia a dia? Como posso fazer a substituição dele para ficar bem nutrido?

     Para responder a estas perguntas, precisamos entender como funciona a resposta do corpo a agentes considerados invasores.

     Somos únicos e resultamos da interação de nosso exclusivo genótipo com o meio ambiente. Isso se reflete em nosso temperamento, imunidade, pele, sede e apetite.

     Por exemplo, pessoas que vivem em ambientes muito frios tendem a ter a pele mais clara, comem alimentos com mais gordura e são mais introspectivos. No que se refere a resposta aos alimentos que comemos não é diferente, possuímos reações individuais a ele. O que para um é remédio, para o outro pode ser um veneno!

     Cabe ao trato digestório, o papel de transformar alimentos em nutrientes, sendo estes a matéria prima para que as células funcionem de forma adequada. Quando a digestão não ocorre de forma apropriada, há um sistema bastante especializado evitando a passagem de pedaços de alimentos ainda não digeridos.

     Para isso, o sistema imune desenvolveu atolerância oral, que serve para proteger nosso corpo dos possíveis alérgenos. O órgão responsável pela tolerância oral é o sistema imune entérico (fica dentro do intestino) que serve para combater parasitas, vírus e alimentos mal digeridos. Este sistema avisa às outras células do seu exército, por meio da histamina (aminoácido) que recebeu este estranho, ou outro cruzar que, se por ventura, seu caminho.

     A ação do sistema imune do intestino, se for constante, vai provocar deficiência de nutrientes, facilidade para causar alergias e redução da capacidade de defesa imunológica, sem falar dos danos ao funcionamento intestinal

     O glúten é uma proteína elástica e, por isso, pode se acumular no intestino e causar alterações na mucosa, provocando a hiperpermeabilidade intestinal, sendo esta uma das causas das possíveis reações ao seu consumo.

 

Mas, afinal, o que é glúten?

     O glúten - ou cola, em latim - é a proteína presenteno trigo, centeio e cevada. Portanto pães (francês, milho, aipim, integrais), massas, bolos, biscoitos, pizzas, rissoles, empadas, cevadinha contêm esta proteína. É ele que confere às massas elasticidade e maciez, ajudando-as a crescer e manter o seu formato. 
 
     A aveia não contém glúten, mas pode ser contaminada por ele no cultivo ou armazenamento. Atualmente, no mercado já existe aveia livre de glúten para consumo, mas o valor é bastante elevado.

 

     O trigo vem sofrendo nos últimos cem anos várias modificações genéticas para garantir um produto de aspecto mais comercial, que gere mais lucros. Neste período nossa mucosa intestinal manteve sua bioquímica ancestral, não se adaptando a estas mudanças, sofrendo assim, com a sobrecarga desta proteína. Além disso, o consumo de alimentos com trigo aumentou de forma absurda, sendo um alimento consumido praticamente em todas as refeições. Este hábito alimentar somado a maior acesso a exames, possa justificar o grande número de pessoas com queixas relacionadas ao seu consumo.

 

Consumo de glúten destacado na mídia

     No Brasil, a lei número 8.543, de 1992, exige que os rótulos de todos os produtos industrializados indiquem se contém ou não glúten. 
 
     Nos últimos dois anos, foi a crescente a divulgação dos efeitos adversos do consumo do glúten, e como todo o fenômeno que ocorre em larga escala, tem seus aspectos positivos e negativos.

 

     Como negativo, considero a ideia de que basta retirar o glúten da dieta e substituir por outros carboidratos para tratar os sintomas. Isto porque, além de deixar de consumir glúten, é preciso tratar o ambiente intestinal e melhorar a qualidade da dieta alimentar.

 

     Outro aspecto negativo baseia-se no fato de que as pessoas passaram a não investigar de forma adequada se os sintomas que apresentam se devem ao glúten ou a deficiências nutricionais. A simples substituição do trigo por outros carboidratos não é suficiente para corrigir os danos que o glúten possa ter causado. A dieta livre de glúten pode até piorar a qualidade da alimentação, dependendo de suas escolhas, uma vez que alimentos sem glúten, em sua maioria apresentam alto índice glicêmico. 
 
     Como aspecto positivo o aumento de produtos livres de glúten, ofertados no mercado, possibilita maior acesso a produtos e estabelecimentos facilitando a vida das pessoas com esta restrição alimentar.

 

 

Quando necessário, como substituir o glúten na minha alimentação?

Como substitutos da farinha de trigo nas preparações podemos usar farinha de arroz, fécula de batata, fécula de mandioca, amido de milho, farinha de quinua, farinha de trigo sarraceno (não contém glúten).

Cereais e tubérculos não contêm glúten:

Batata inglesa, batata doce, cará, inhame, aipim (farinha de mandioca, polvilho, tapioca, sagu), milho (polenta) 
Arroz (farinha de arroz, arroz integral e branco, biscoitos de arroz) 
Quinua, amaranto, chia, linhaça, feijão, lentilha, grão de bico.
Farinhas de oleaginosas : amêndoas, castanhas

 

Para corrigir o alto índice glicêmico (o quanto o alimento pode elevar a glicose no sangue), sugerimos incluir sementes como chia, abóbora, gergelim, girassol, linhaça, quinua, amaranto, os quais oferecem fibras e diversos nutrientes melhorando o aporte nutricional da preparação.

 

Pães sem glúten tendem a esfarelar. Para reduzir este problema, o ideal é usar um ingrediente que promova a união entre os secos e os líquidos da receita, promovendo o que chamamos de "liga”. Estes ingredientes ajudam a dar maciez ao produto final, mas devem ser usados com cuidado, por que em excesso deixam a massa pesada.
 

 

 

Seguem alguns:
GOMA GUAR – é um tipo de fibra solúvel, extraída do vegetal Cyamoposis tetragonolobus. Em contato com a água forma um gel viscoso, servindo como emulsificante, espessante e estabilizante.

 

 

GOMA XANTANA – é um polissacarídeo obtido pela fermentação da bactéria Xanthomonas campestris. Possui propriedades estabilizantes, espessantes e gelificantes. 
 

 

 

Importante:
- para dar mais viscosidade, é necessário ter mais liquido na receita, sendo assim a tendência é de que as massas sejam mais macias no momento do preparo que as convencionais. Se a receita incluir sementes, como chia e linhaça, mais líquido será necessário, uma vez que estas sementes absorvem água nas receitas.
- uma combinação de farinhas sem glúten produz um resultado melhor do que usar apenas um tipo de farinha.

 

- farinhas com um teor maior de proteína ajudam na sustentação da massa. Boas opções farinha de arroz integral, quinua em flocos, amaranto em flocos, farinha de grão de bico, farinha de trigo sarraceno

- os produtos sem glúten tendem a ressecar rapidamente, portanto o ideal é armazenar na geladeira ou freezer. No momento de consumir, para melhorar a textura, aqueça por 5 minutos no forno elétrico ou 1 minuto na torradeira elétrica.

 

 

Maribel Melos é nutricionista Clínica desde 1993
Especialista em Nutrição Clínica - ASBRAN
Pós-Graduada em Nutrição Clínica Funcional - VP Consultoria
Pós-Graduada em Fitoterapia Clínica – CKS
Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional


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